Desenhar com a luz controladamente

Fotografar é desenhar com luz, utilizando corpos sensíveis à luz para registar a imagem. Há muitos materiais sensíveis à luz

[por exemplo, a pele humana, como provam as marcas dos fatos de banho quando nos bronzeamos ao Sol].

O problema dos materiais como a pele humana é que são demasiado lentos na reação à exposição à luz: a sua utilização para registo fotográfico exigiria exposições… de anos. Por isso se optou (nas máquinas tradicionais) por cristais de sais de prata

[que são extremamente sensíveis à luz]

misturados com gelatina e depositados sobre uma película: o resultado é um produto em vias de extinção: os rolos fotográficos.

A fotografia digital funciona, em princípio, como a fotografia com película: em ambos os casos

[e de um modo simplificadamente dito]

a luz atravessa uma lente e incide sobre um material sensível à luz, que a absorve e amplifica de modo a torna-la visível. A diferença é que, nas máquinas digitais, a película é substituída por um fotossensor digital eletrónico

[bem… existem outras grandes diferenças no que respeita ao modo de obter as imagens após a captura: tradicionalmente, eram/são utilizados processos químicos e mecânicos, para revelar e depois imprimir as fotos; nas máquinas digitais, um microcomputador encarrega-se de processar a informação recebida].

Serve esta introdução para realçar a importância “vital” da luz na fotografia: uma máquina fotográfica é, basicamente, uma caixa impermeável à luz, que a deixa passar controladamente, de acordo com determinados parâmetros. É o obturador (ver imagem a seguir) que impede a luz de passar; quando se aperta o botão disparador, abre-se o obturador e a luz entra no sensor e capta-se a imagem.

Para uma boa fotografia, é muito importante conseguir que uma quantidade de luz exata atinja o sensor/filme durante um tempo exato. Conseguindo-se isso, obtém-se uma exposição correta. Se, ao contrário, essa luz for demasiada, a foto ficará sobrexposta, ou seja, clara demais nas zonas claras; se essa luz for de menos, a foto ficará subexposta, ou seja, escura demais, sem detalhes nas sombras.

Uma exposição pode ser controlada por 3 funções principais das máquinas digitais:

    1. A abertura da objetiva. O diafragma ou abertura é um orifício circular, existente imediatamente atrás da objetiva. Funciona como a pupila do olho

      [que se contrai, em condições de muita luz e, portanto, precisa de menos luz — e o contrário, em condições contrárias],

      controlando o diâmetro da objetiva e fazendo com que entre na câmara mais ou menos luz: quanto maior for o tamanho da abertura, mais luz entrará; quanto menor for esse tamanho, menos luz entrará. A abertura é habitualmente medida em números f: um número menor representa uma abertura maior, que permite a entrada de mais luz. Por exemplo, uma abertura de f 2.8 é significativamente maior do que uma  f 22; a primeira deixa entrar bastante mais luz do que a segunda (com fotos mais brilhantes ou escuras, respetivamente). Alterando devidamente estes valores, é possível fotografar em situações de baixa luminosidade (dias escuros, ambientes com pouca luz…: aberturas maiores) ou com sol brilhante (aberturas menores). Estes valores afetam igualmente a profundidade da nitidez da imagem (a profundidade de campo) como já aqui e aqui expliquei.

    2. A velocidade do obturador. Medida em frações de segundo, determina durante quanto tempo a luz incide no sensor. Por exemplo, alterar a velocidade de 1/125 (1/250 de segundo) para 1/250 equivale a reduzir para metade o tempo em que o obturador está aberto, entrando menos luz, no segundo caso (naturalmente, mantendo todos os outros fatores). Pode utilizar-se a velocidade para controlar o registo do movimento: uma velocidade rápida congela a ação

      (a queda de água numa cascata, por exemplo);

      uma velocidade lenta produz maior sensação de movimento

      (por exemplo, nas corridas de automóveis; ou numa fotografia noturna).

      Se, por hipótese, quiser fotografar algo a partir de um automóvel em andamento, preste atenção à escolha de uma velocidade do obturador adequada

      (para evitar fotos “tremidas”. E lembre: quanto mais lenta é a velocidade, mais necessidade há de um tripé ou um apoio para a máquina).

    3. A sensibilidade do sensor/película à luz. Se comprou os velhinhos rolos fotográficos, talvez se lembre de indicações, na caixa respetiva, como 100 ASA ou 400 ASA. ASA é a escala americana para medir a referida sensibilidade; nas digitais, em vez de ASA encontrará ISO, uma escala que agrupa as escalas ASA (americana) e DIN (alemã). Assim, um ISO 200 reage mais rapidamente à luz do que um ISO 100, pelo que no segundo caso será necessária mais luz e/ou mais tempo de abertura para se obter a “mesma” imagem. Está a fotografar em condições adversas (pouca luminosidade,…)? escolha um ISO elevado! Mas tenha em conta que

      (tal como as películas mais sensíveis, por exemplo de 400 ASA ou mais, tinham um padrão mais grosseiro de grãos de prata)

      sensibilidades elevadas provocam ruído digital, semelhante às fotos tradicionais “com mais grão”

      [o maior ou menor ruído digital depende da qualidade da máquina].


Muitas máquinas digitais possibilitam já controlar estes 3 fatores de diversos modos (normalmente assinalados num botão giratório), de maneira a conseguir uma exposição correta: [imagem]

  1. Dando prioridade à abertura (posição A), a máquina determina automaticamente o valor da velocidade, em função do valor de abertura escolhido;
  2. Dando prioridade à velocidade (posição S), a máquina determina automaticamente o valor da abertura, em função do valor de velocidade escolhido;
  3. No modo manual (posição M), o fotógrafo deve escolher os 2 valores, por sua conta e risco

    [bem… há aparelhos para ajudar a medir; designadamente, os fotómetros, tanto os exteriores como os incorporados nas máquinas, que medem a quantidade de luz que incide sobre o objeto a fotografar – e, portanto, a luz necessária para uma exposição correta];

  4. A escolha do ISO influencia as escolhas anteriores, de acordo com o acima explicado. Combinar entre si estes fatores é uma arte, fruto de conhecimento técnico, de experiência e de objetivos artísticos

    [o “grão”, particularmente em fotos a preto e branco, constitui não poucas vezes uma opção com efeitos interessantes].

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