Num ensaio publicado no número 237 da revista Claves de Razón Práctica (p. 120-129), Alberto Cirio analisa detalhadamente o videoclipe da canção Happy Xmas, de John Lennon (1971). Com o subtítulo de War is over (if you want it ), Happy Xmas, faz notar o autor, popularizou-se tendo-se convertido numa canção pop de Natal. Erradamente, como se pode concluir do videoclipe oficial, que não se popularizou como a canção. Nele se mostram imagens documentais do Vietname, dos Balcãs, do Corno de África e dos atentados do 11 de setembro. Cenas de guerra, de sofrimento; crianças mutiladas e outras a jogar em campos de minas; soldados a sofrer; homens, maduros com barba ou jovens com bigode, a chorar; mulheres extenuadas; olhares interrogativos de crianças; abraços; sorrisos; dor. Não está em causa uma denúncia da superficialidade consumista da época, mas uma mensagem muito mais potente. Em todos esses seres que sofrem está latente, além do horror, uma certa formosura; a indestrutível afirmação do ser humano. A quem está destinada esta formosura?, pergunta Alberto Cirio.
Recusando tanto que o olhar do videoclipe seja o olhar artístico (a partir de dentro) como é o de Desastres da Guerra de Goya como o olhar estético (a partir de fora), o ensaio defende que se trata do olhar do documentário. O mesmo distanciamento que faz dele um vídeo documental faz com que a canção natalícia, em vez de soar como uma provocação ou um cinismo, se escute como uma declaração de salvação desses seres a quem o desastre faz aparecer mais humanos que nunca. […] E é assim que nessas imagens vemos vidas desfeitas, mas abraçando-se, dando a mão, beijando-se, correndo ao encontro umas das outras.
O vídeo termina com palavras de Gandhi, que se referem sem dúvida aos atores e às vítimas das guerras, mas mais ainda se referem a nós próprios, espetadores à distância:
Olho por olho, e todos acabaremos cegos.
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Este é o videoclipe:
O artigo de Alberto Cirio: