O que (não) é uma proposição

Uma proposição é expressa por uma frase, mas nem todas as frases exprimem proposições. Vamos explicar isto partindo de exemplos:

  1. “Quantos anos tens?”
    (uma frase interrogativa: não exprime uma proposição)
  2. “Estuda todos os dias!”
    (uma frase onde se dá um conselho: não exprime uma proposição)
  3. “Quero tirar positiva a Filosofia!”
    (uma frase que exprime um desejo: não exprime uma proposição)
  4. “Juro que amanhã trago o livro.”
    (uma frase que exprime uma promessa: não exprime uma proposição)
  5. “Deus existe.”
    (uma frase declarativa: exprime uma proposição)
  6. “O Homem não é livre.”
    (uma frase declarativa: exprime uma proposição)

Portanto, não exprimem proposições as frases que exprimem

  • • Perguntas (1)
  • • Exclamações, ordens, conselhos (2)
  • • Desejos (3)
  • • Promessas (4)

Exprimem proposições as frases (5 e 6)

  • declarativas (isto é, que exprimem ideias, pensamentos)

e

  • com valor de verdade (isto é, que podem ser verdadeiras ou falsas) – dito de outro modo: que têm sentido.
    (Repare que nenhuma das frases 1-4 obedece tem estas características)

Portanto, em síntese, uma proposição é o pensamento expresso por uma frase declarativa que pode ser verdadeira ou falsa.

Note o seguinte: a proposição não é a frase, mas o seu conteúdo. Por exemplo, “Deus não existe” e “Dieu n’existe pas” são duas frases com o mesmo conteúdo — portanto, duas frases que exprimem a mesma proposição. O mesmo acontece com as frases “O Coelho tem montanhas de dinheiro” e “O Coelho tem rios de pilim”. Pode acontecer que a mesma frase exprima, conforme o contexto, duas proposições; por exemplo, “Gosto muito do meu banco” tanto pode referir-se à instituição bancária como ao objeto onde me sento…

(uma frase é uma sequência de palavras através das quais podemos afirmar ou negar algo, perguntar, dar ordens, exprimir desejos ou intenções,…)

Proponho-lhe o seguinte exercício: justifique se as frases seguintes exprimem proposições:

  1. “O Sol vai ‘morrer’ no 4º milénio”.
  2. “Nem sempre matar é mal”.
  3. “Os números primos casam com os números pares às quartas-feiras”.
  4. “Lisboa é a capital de Espanha”.
  5. “Em Marte há vida”.

[esboço de resposta]

  1. “O Sol vai ‘morrer’ no 4º milénio”.
    [sim: é declarativa e pode ser verdadeira ou falsa]
  2. “Nem sempre matar é mal”.
    [sim: é declarativa e pode ser verdadeira ou falsa. Sabemos que nem todos concordam com esta proposição; mas isso não impede que ela ou é verdadeira ou é falsa].
  3. “Os números primos casam com os números pares às quartas-feiras”.
    [não: é uma frase declarativa, mas nem é verdadeira nem falsa, porque não tem sentido].
  4. “Lisboa é a capital de Espanha”.
    [sim. Como se trata de uma afirmação falsa, poderíamos ser tentados a pensar que não se trata de uma proposição; mas, o que exprime uma proposição é uma frase declarativa que pode ser verdadeira ou falsa — logo, as frases declarativas falsas também exprimem proposições, como é o caso. Uma afirmação absurda — que não tem sentido — é diferente de uma afirmação falsa].
  5. “Em Marte há vida”.
    [sim. Como se trata de uma afirmação cujo valor de verdade não podemos, por enquanto, determinar (não sabemos se em Marte há vida ou não), poderíamos ser tentados a pensar que não se trata de uma proposição; mas uma coisa é nós sabermos qual o valor de verdade de uma afirmação  — outra coisa é essa afirmação ter valor de verdade, poder ser verdadeira ou falsa. E, no caso, pode: é verdadeira se houver vida em Marte; é falsa, se não houver].
Já agora… e a frase da imagem que ilustra este texto exprime alguma proposição?

20 thoughts on “O que (não) é uma proposição”

  1. Gomes:

    Parabéns pelo blogue. Bom trabalho!

    Este texto sobre as proposições é muito claro e informativo. Mas deixa-me pôr-te uma pequena dúvida relativamente à frase “Quero tirar positiva a filosofia”:

    Podemos entendê-la como a expressão de um desejo e nesse caso não exprime nenhuma proposição, tal como sucede por exemplo com “Uao!”, que se limita a exprimir uma emoção.

    Mas também podemos entender a frase com a descrição de um estado mental e nesse caso essa descrição pode ser verdadeira ou falsa. Imagina que o pai de um aluno questionou o seu empenho na disciplina de Filosofia e ele protestou dizendo “Quero tirar positiva a filosofia”. Estará a dizer a verdade ou não?, pergunta-se o pai. Nesse caso a frase exprime uma proposição.

    Que achas?

  2. Olá, Carlos!

    Acho que tens razão. No texto “original”, que dei em papel aos meus alunos, no lugar do ponto final estava um ponto de exclamação, para retirar ambiguidade à frase. Vou substituir — ainda que, mesmo assim, talvez possa nao ser o melhor exemplo.

    Obrigado pela correção.

    1. Olá Pedro, vou esclarecer a tua vida pois parece que estás um pouco confuso, então cá vai. Um argumento é válido quando a conclusão deriva necessariamente das premissas, por exemplo: Todos os estudantes são simpáticos(Premissa Maior)/ O Pedro é um estudante(Premissa Menor)/Logo, o Pedro é simpático(Conclusão); E um argumento é inválido quando a conclusão não deriva das premissas, por exemplo: Todos os estudantes são simpáticos/ O Pedro é um estudante/Logo, o Pedro gosta de vegetais, é um argumento inválido.

      As proposições são frases declarativas com valor de verdade: de verdade e falsidade. Valor de falsidade: Lisboa é a capital de Espanha.
      Valor de verdade: Lisboa é a capital de Portugal.

      As proposições não podem ser nem frases interrogativas, nem exclamativas, nem imperativas

      1. Olá, Rosa! Obrigado pelo seu contributo para O meu Baú.

        Penso que vale a pena fazer uma precisão num aspeto da sua resposta: o da validade dos argumentos. A Rosa refere-se à validade dos argumentos dedutivos. De facto, um argumento dedutivo é válido quando é impossível a conclusão ser falsa se as premissas forem verdadeiras; o exemplo que deu é amostra disso.

        Mas nos argumentos não dedutivos a validade é de outro tipo. Nos argumentos indutivos válidos, por exemplo, se as premissas forem verdadeiras, é improvável que a conclusão seja falsa: improvável mas possível. É o que acontece neste exemplo “clássico” (de um argumento indutivo / previsão):
        (Premissa verdadeira) “Até hoje, o sol nasceu, todas as manhãs”
        (Conclusão) “Amanhã, o sol vai nascer, pela manhã”

  3. estou com uma duvida a proposição lógica da frase ¨Se Arthur é professor da Educação Infantil, então ele zela pela educação brasileira¨

    posso dizer que é logicamente equivalente à proposição:
    Se Arthur zela pela educação brasileira, então ele é professor de educação infantil.
    Porque?

  4. não, a frase representada na imagem não é uma proposição, é uma frase interrogativa e ao mesmo tempo está a dar um conselho.

  5. 1 _sobre as figuras

    1.1 quando é que diz, sao da 1ª, 2ª 3ª e da 4ª figura.

    2_sobre o quadro logico
    2.1 quando explicar direto as proposicoes alocadas e distiqgui-las durante as operacoes logicas nas proposicoes.

    cpts
    semente barro _ Mozambique _sofala_Beira

  6. José Augusto de Luna

    Gostei muito dos seus esclarecimentos. Mesmo assim agente sempre tem dúvidas. Esta frase por exemplo: Penso que 1+1=2. Me deixou um tremenda dúvida. Isso é uma proposição?

    1. Se “1+1=2” é uma proposição? A resposta é sim! Com certeza. Por quê? Porque proposição, nas palavras de Gelson Iezzi e Carlos Murakami, é “[…] toda oração declarativa que pode ser classificada de verdadeira ou de falsa.” Para aclarar, “1+1=2” seria o mesmo que dizer “Um mais um é a igual a dois.” Ainda de acordo com os supra citados autores, “[…] toda proposição apresenta três característica obrigatórias:
      1ª) sendo oração, tem sujeito e predicado;
      2º) é declarativa (não é exclamativa nem interrogativa);
      3ª) tem um, e somente um, dos dois valores lógicos: ou é verdadeira (V) ou é falsa (F).” Espero ter ajudado!

  7. Queria saber se as opiniões são consideradas proposições ?

    E nessa frase : existe vida após a morte ? E uma proposição ?

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