Este não é propriamente o tipo de música de que mais gosto. Ouça-a e depois diga-me o que acha. Eu dir-lhe-ei por que razão a coloquei aqui.
I’m surprised by the sun everyday I wake up
I’m surprised by waking up
I’m surprised to see my blood still running through, erupt me
Think I must have died but
I’m surprised to sledge (?) upon a darkness night
I have cried a well of poisoned tears
I’m surprised that your skin can let in so much sin
But I know I’m still aliveLooks like I’m alive / Looks like I’m alive
Looks like I’m alive / Looks like I’m aliveI have tried to understand the hardest riddles
Love and hate beloved and strange
And I am tired but I know how to stop with ??? dried (?)
Now I know I’m still aliveLooks like I’m alive / Looks like I’m alive
Looks like I’m alive / Looks like I’m aliveAlive / Alive / Alive
Conheci esta Alive de Mara Carlyle através do livro Pequeno-almoço com Sócrates, de Robert Rowland Smith [Alfragide: Lua de Papel, 2010]. Ao longo de 18 capítulos que (com uma introdução, um posfácio, bibliografia, agradecimentos e índice remissivo) constituem a obra, faz-se um percurso por várias etapas do(s) dia(s) [da vida]
[desde o acordar até ao adormecer e sonhar, passando pelo trabalho, pelas compras, fazer sexo, tomar banho, olhar-se ao espelho…]
guiados pelas ideias e conselhos de filósofos e outros pensadores.
O capítulo inicial abre assim (negrito meu):
Há uma música encantadora chamada Alive, cantada por Mara Carlyle, que abre com estes versos:
“Sou surpreendida pelo sol todos os dias ao acordar,
Fico surpreendida por acordar!“[I’m surprised by the sun everyday I wake up / I’m surprised by waking up]
A voz de Mara passa da hesitação à exaltação enquanto canta, imitando a transição da sonolência para a consciência. O mais amoroso na letra da canção é que reencena o espanto infantil com o despertar, o espanto por o mundo estar ainda aí, por a pessoa que acorda continuar a existir. Mesmo para os adultos, ao despertar após um sono demasiado breve, ou com ressaca, ou ao lado da pessoa errada, ou a seguir a uma série de sonhos agitados, há um momento, imediatamente antes do regresso do pessimismo ou do desespero, em que estar pura e simplesmente acordado de novo, e ainda vivo, é uma surpresa inacreditável.
Por que razão é assim? Por que razão, embora aconteça todos os dias, pode o despertar surpreender-nos ainda? Será justamente porque, até esse momento, estávamos a dormir e por isso não suficientemente alerta para sermos capazes de prever que estávamos na iminência de acordar? Se é assim, então, tecnicamente falando, despertar não pode ser uma surpresa — porque imediatamente antes disso estamos, por definição, adormecidos.
Portanto, embora o despertar seja o mais previsível acontecimento das nossas vidas, tão certo como o nascer do sol pela manhã, nunca o prevemos de facto. Previsível e imprevisível em partes iguais, o acordar é um paradoxo — uma dobra na lógica linear das coisas — e essa é justamente uma das razões pelas quais vale a pena pensar nisso. De facto, embora pareça banal, acordar é uma das acções mais profundas que podemos levar a cabo. Pode soar estranho dizer que há uma filosofia do despertar, mas, de certa forma, a filosofia na sua totalidade não fala de outra coisa.