Nos tempos que correm
[os tempos de as Iras de Deus e os Códigos da Vinci galgarem os tronos dos best-seller],
quem se atrever a aconselhar a leitura de Alves Redol corre sérios riscos de gerar indiferença ou estranheza ou provocar desdém. Como tenho seguro contra (quase) todos os riscos, aconselho a (re)leitura de Avieiros
[um “romance lírico, de um lirismo doloroso e concreto”, como o classifica o autor no prefácio à 5ª edição],
daquele escritor neorrealista.
Deliciem-se (de novo, se for releitura) com a descrição da luta do Homem pela sobrevivência, contra o mar (e, secundariamente, a terra) e os donos de um e outra — com a análise da condição humana
[“A paixão é o tudo e o nada dos homens. Odienta ou amorosa, a paixão empolga-o, porque nem só o amor sublima o homem. Também na luta feroz ele se ultrapassa” (p. 217)],
da liberdade e das suas circunstâncias
[“a liberdade também é cadeia quando falta o trabalho a um homem” (p. 195-196)],
com a crítica social que banha cada página
[“Há sempre quem mande nos pobres; o mal é dos pobres” (p. 202)].
Deliciem-se sobretudo com a figura feminina central da história, a Olinda Carramilo
[com a complexidade e a fibra da Olinda Carramilo, exemplarmente analisadas nas páginas 221 a 224 da 8ª edição de 1980, da Europa América, que é a que aqui nos serve de referência].