Dave Brubeck morreu a 5 de dezembro de 2012, na véspera de completar 92 anos.
Sobre ele, em Jazz Moderno (trad. Guilherme P. dos Santos. Braga : Plano, 1973) escreveu-se
A reputação de Dave Brubeck ultrapassa, há vários anos, o quadro do jazz. É também um dos músicos a respeito do qual se desenvolveram inúmeras polémicas. A objectividade obriga-nos a dizer que Brubeck interessou-se constantemente por todas as formas de música (jazz, diferentes folclores e, claro, música clássica, pois foi aluno de Darius Milhaud). Por isso, tentou muitas experiências instrumentais e musicais que têm o mérito de serem originais, mesmo se o seu interesse verdadeiro é, muitas vezes, desigual, mesmo se as ambições do seu autor parecem, por vezes, pretensiosas. Os seus discos são vendidos muito bem, obteve um raro sucesso comercial no jazz, principalmente à frente do seu célebre quarteto que manteve dezassete anos, com o excelente saxofonista alto Paul Desmond. Pianista contestável, Brubeck é, em todo o caso, um notável compositor. Além disso, é provável que a sua popularidade tenha arrastado para o jazz um público que lhe era indiferente antes de conhecer este pianista. (p. 129)
Esse seu quarteto foi aquele “de quem o público americano gostou mais”. Foi formado “pelo pianista em 1951 — com o saxofonista alto konitziano Paul Desmond, o contrabaixista Norman Bates (mais tarde substituído por Gene Wright) e o virtuoso baterista Joe Morello — e dissolvido durante o verão de 1968. Dave Brubeck é um pianista limitado mas, como leader, não lhe falta inteligência. Soube pôr-se atrás de Desmond, responsável pela sonoridade sedutora do conjunto, e aproveitar-se dos seus próprios talentos de compositor (reconhecidos por músicos da estatura de Miles Davis) para assegurar a estima de um vasto público (superando muito a audiência tradicional da música negro-americana e que se aproximava dele muito feliz por penetrar, ao mesmo nível, nesta música habilmente apresentada como «progressista»). Deste grupo demasiado apoiado no bonito e na facilidade ficarão alguns solos de Desmond (como em Blue Rondo A La Turk) ou de Joe Morello (como em Castillian Drums), mais alguns temas admirável de Dave (In Your Own Seet Way, The Duke) e um «tube» assinado pelo saxofonista alto: Take Five.” (p. 197)
Em Anarqueologia do jazz: Jazzband:1900-1960 (Lisboa: A Regra do Jogo, 1984), Jorge Lima Barreto escreveu:
É lugar-comum saber-se que Brubeck é um músico erudito. As influências da música clássica europeia (neoclassicismo, expressionismo e barroco) são evidentes, quer no tratamento rítmico (gavotte, minuete, rondo, sarabanda), quer no tratamento harmónico (Kodaly, Stravinsky, Milhaud, Bartok), quer no tratamento melódico (compositores russos e americanos dos séculos XIX e XX). Inspira-se nas rítmicas etnomusicajs (rumba, batuque mahori, calipso, samba, dança basca, dança do Hawai) alargando terminantemente os estereótipos rítmicos do jazz. O ataque ao teclado é violento, a melodia moldada com larga racionalização harmónica. […] Brubeck é um dos meus pianistas favoritos, entre os cem que igualmente adoro”. (p. 82-83)