Cântico dos Cânticos

A 30 de setembro de 1452, foi editada A Bíblia de Gutenberg, o primeiro livro a ser impresso.

A Bíblia é uma antologia de textos/livros tidos como sagrados pelas religiões judaica e cristã. De acordo com os livros aceites como integrantes da Bíblia, é possível distinguir a Bíblia hebraica, a católica romana e a protestante.

A Bíblia aparece no lugar cimeiro das listas dos livros mais vendidos. O que não significa que seja o mais conhecido ou o mais lido. E, nalguns casos, “injustamente”: estou a pensar, para dar apenas um exemplo, no Cântico dos Cânticos.

“O Cântico dos Cânticos é um poema, atribuído a Salomão por uma velha tradição, embora sem grande fundamento histórico. É mais provável que tenha sido composto no século IV A. C. A sua interpretação é muito difícil, dado o caráter metafórico e alegórico que reveste, não só no conjunto, mas até nos pormenores. Os racionalistas preferem ver nele um simples poema de amor puramente natural. Outros, e entre eles alguns católicos, consideram-no uma glorificação do amor e núpcias de Salomão com a filha dum Faraó e, simbolicamente, das núpcias ou união de Deus com o povo hebreu e de Cristo com a natureza humana e com a Igreja” (introdução, in Bíblia Sagrada, da Difusora Bíblica).

Garantindo (digo eu…) que vale a pena ler o poema todo, deixo uns pequenos extratos:

[O anel da Esposa]

Cântico dos cânticos de Salomão.

Ah! Beija-me com ósculos da tua boca!
Porque os teus amores são mais deliciosos que o vinho,
e suave é a fragrância dos teus perfumes;
o teu nome é como um perfume derramado;
Por isso te amam as donzelas.
Leva-me atrás de ti; corramos!
O rei introduziu-me nos seus aposentos.
Exultaremos e nos alegraremos em ti.
Cantaremos os teus amores mais suaves que o vinho.
Quanta razão há de te amar!

[…]

[A Esposa]

Enquanto o rei descansa no seu divã, o meu nardo exala o seu perfume.
O meu amado é para mim uma bolsa de mirra,
que repousa entre os meus seios.
O meu amado é para mim um cacho de cipre
nas vinhas de Engadi.

[…]

Durante a noite, no meu leito,
busquei aquele que a minha alma ama;
procurei-o, mas não o achei.
Levantei-me e percorri a cidade,
as ruas e as praças,
em busca daquele a quem a minha alma ama;
procurei-o e não o achei.
Encontraram-me os guardas
que faziam a ronda na cidade.
«Vistes, acaso, aquele a que a minha alma ama?»
Mal passara por eles,
encontrei aquele a quem a minha alma ama.
Agarrei-me a ele e não o largarei mais,
até que o tenha introduzido na casa de minha mãe,
no quarto daquela que me concebeu.

[…]

[O Esposo]

Oh, como és formosa, minha amada,
como és formosa!
Os teus olhos são como pombas,
por detrás do teu véu.
Os teus cabelos são como rebanho de cabras
descendo das vertentes pelas montanhas de Galaad.
Os teus dentes são como um rebanho de ovelhas tosquiadas,
que sobem do lavadouro;
cada uma delas leva dois cordeirinhos gémeos,
e nenhuma há estéril entre elas.
Os teus lábios são como um fio de púrpura,
e o teu falar é doce.
A tua face é como um pedaço de romã
por detrás do teu véu.
O teu pescoço é semelhante à torre de David,
rodeada de troféus, da qual pendem mil escudos,
todos os escudos dos heróis.
Os teus dois seios são como dois filhinhos gêmeos de uma gazela
que pastam entre os lírios.

[…]

[A Esposa]

Eu sou para o meu amado,
e seus desejos voltam-se para mim.
Vem, meu amado
saiamos para o campo,
passemos as noites nos pomares;
madrugaremos para ir às vinhas,
e ver se a vinha lançou rebentos,
se as suas flores abrem,
se as romãzeiras estão em flor,
ali te darei meus amores.
As mandrágoras exalam o seu perfume;
e temos à nossa porta frutos excelentes,
novos e velhos,
que guardei para ti, meu amado.
Quem me dera que fosses meu irmão,
amamentado aos seios de minha mãe,
para que encontrando-te fora, te pudesse beijar
sem que ninguém me censurasse.
Eu te levaria, far-te-ia entrar
na casa de minha mãe.
Dar-te-ia a beber o vinho perfumado,
mosto das minhas romãs.

[ilustração de Meinrad Craighead]

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