Wolfgang Amadeus Mozart nasceu em Salzburgo a 27 de janeiro de 1756. Mozart foi um compositor clássico, no sentido que a seguir explicarei.
É comum dividir-se a história da música habitualmente chamada clássica (e a história da literatura e da pintura e da história…) em várias épocas. A época clássica está associada a quatro compositores (Haydn, Mozart, Beethoven, Schubert) e a uma cidade (Viena). Um tanto simplistamente é certo, porque outros compositores tiveram na época mais fama do que, por exemplo, Mozart (por exemplo, Hummel). Mas o classicismo, em termos musicais, designa essencialmente o estilo e os valores que floresceram em e nos arredores da cidade de Viena (então, uma cidade com fome musical sem paralelo. E, eventualmente, com sorte) na época de Mozart e Beethoven.
Uma época de grandes reformas, à luz dos princípios do Século das Luzes
(recordar a visão épica que Beethoven tinha do Homem ou a incorporação do vulcão coral da sua Nona Sinfonia ou a sua independência em relação às “cortes” reais):
reformas sociais (democratização anti-aristocrata), musicais (abandono da ornamentação e dos argumentos complicados do Barroco), instrumentais (o piano, outra personagem que se pode juntar aos quatro músicos referidos, vai-se transformando no que é hoje; a evolução rápida dos recursos harmónicos, do ritmo, do alcance dinâmico e expressivo da orquestra dispensaram a técnica barroca do baixo contínuo).
Outro salto seria dado pelas canções com piano de Schubert. O intimismo e a informalidade do lied alemão acentuarão o distanciamento das hierarquias sociais e culturais dos séculos anteriores. O ciclo schubertiano Winterreise (Viagem de Inverno), composto um ano antes da morte do compositor em 1828 aos 31 anos, mostra os anos-luz que a música tinha percorrido desde a aurora do Classicismo: de apoiar implicitamente uma sociedade feudal a ser capaz de abarcar uma meditação explícita sobre a morte, o desespero e a solidão eterna do artista como inconformista
[tinha nascido o Romantismo (e uma nova época)].
Voltando a Mozart… proponho, como prenda de aniversário, um dos seus concertos para piano que mais me encanta (e considerado por muitos como o mais majestoso — de uma majestade… feminina): o nº 22 em Mi bemol maior, K. 482
[já aqui tentei explicar o que é um concerto].
O primeiro andamento é, para Roland de Candé (e para mim), “esplêndido, solar, com uma passagem de sombra cruel que faz ainda melhor sair a luz. Prodigalidade melódica do qual um delicioso tema fugitivo, não desenvolvido, é como uma flor atirada para uma sepultura”:
O segundo andamento (início aos 13′ 45”, no vídeo seguinte) é o mais patético andante de Mozart. A expressão sombria é sublinhada pelas cordas a tocar em surdina. O eco de uma tragédia interior. Uma luta maravilhosa entre luz e sombra. Uma beleza e sensibilidade tal que levou o público a exigir que o andamento fosse repetido, na primeira audição em Viena.
Mas o terceiro andamento (início aos 21′ 31”) é o que mais me empolga. Com o allegro regressa-se à alegria, à frescura, à destreza, à variedade de orquestração.
[o texto sobre o classicismo foi plagiado de um artigo sobre o mesmo tema do nº 50 da revista Audioclásica]