Não temos registo da data de nascimento de Cristo. Como é que sabemos, então, que nasceu (porquê celebramos o Natal) a 25 de dezembro? Não sabemos. E, como não sabemos, “inventou-se”. Expliquemo-nos!
Começando pelo ano… Ainda que pareça estranho, Cristo pode ter nascido uns anos antes de Cristo. Ou uns anos depois de Cristo. Como acontece ainda hoje, na época havia várias formas de contar o tempo; mas, na maior parte do Império Romano vigorava o calendário romano, cujos anos eram contados a partir da fundação da cidade de Roma. Só no século VI é que um tal monge Dionísio propôs um novo calendário, que começasse a contagem a partir da data de nascimento de Cristo. O monge fez as suas contas, mas enredou-se nos cálculos e enganou-se em quatro anos. Portanto, provavelmente o menino Jesus nasceu 4 anos antes de Cristo. Segundo outras contas, em vez de 4 podem ser 5 ou 6.
A Igreja decidiu a data de nascimento de Cristo, alguns séculos depois de Cristo ter nascido. Não havia a mínima ideia nem do dia nem do mês. Como se chegou, então, a essa data? O Cristianismo sempre teve uma tendenciazinha para adaptar e cristianizar festas pagãs – e foi o que aconteceu com o Natal.
[imagem copiada daqui]
25 de dezembro e os dias próximos foram importantes ao longo da história, em diversas culturas. Por esses dias, ocorre no hemisfério norte o solstício de inverno, o momento a partir do qual os dias começam a ser maiores: é o início da vitória do sol, da luz, da vida, sobre a escuridão, a morte. Durante o solstício, os romanos veneravam os deuses Apolo e Saturno, em festividades muito populares que normalmente tinham o apogeu a 25 de dezembro. A importância do solstício, como data que assinala uma mudança profunda no ciclo da vida, deve ser a explicação do nascimento e das festividades em honra de vários outros deuses ligados ao Sol, em muitos outros povos, que tinham lugar nesta altura. Para dar só dois exemplos, este é o mês das celebrações de Huitzilopochtli, deus asteca do Sol, Guerra e Sacrifício; a 25 de dezembro, dois séculos depois de Cristo, ainda ocorriam grandes festas para comemorar a data de nascimento de Mitra, o deus persa da luz.
Cristo, o Sol verdadeiro, aparece em imagens, desde o século IV, com atributos típicos de Apolo. Na poesia e em outras artes, acontece o mesmo. Apesar de algumas características pouco cristãs (ao menos oficialmente), as semelhanças de Apolo com Cristo são mais do que pura coincidência. Apolo é uma das principais divindades da cultura greco-romana; filho de Zeus, o pai dos deuses, é identificado como o sol (cujo carro ele conduz), o “Sol Invicto”, e a luz da verdade; simultaneamente guerreiro e pastor, matou a serpente Píton; tornava os homens conscientes de seus pecados, de que os purificava…
Os restantes acontecimentos natalícios também não são exclusivos do cristianismo, mas antes retirados dos feitos de deuses ou de grandes heróis, trabalhados com uma dose enorme de fantasia e “folclore”. As culturas da Antiga Grécia e Roma, bem como outras culturas, estão cheias de inseminações de origem sobrenatural, ou filhos de mães virgens; de vidas milagrosas dos filhos de um deus; de nascimentos em condições de grande pobreza (Rómulo e Remo, os fundadores de Roma, foram criados por uma loba; a divindade hindu Krishna nasceu numa cela de prisão); temos ainda anjos, estrelas guias, matança de crianças inocentes… Sendo assim, porque é que o Menino Jesus não haveria de ter direito a honrarias semelhantes, incluindo visita de Reis Magos (cujo número e nomes apenas aparecem no século VII e não nos evangelhos)?
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||| O texto Em que data é o Natal?…
… é o primeiro da série Histórias exemplares. O segundo (Quando começa o Ano Novo?) está aqui.
||| Pode ler mais:
. O texto do Baú Em defesa do Natal e do cristianismo defende que o cristianismo é o berço do liberalismo..