A 19 de Novembro de 1828, faleceu Franz Schubert. Recordamos este compositor austríaco (nascido a 31 de janeiro de 1797), através da audiovisão do seu Quarteto nº 14, A Morte e a Donzela, um quarteto que evoca musicalmente, numa linguagem musical poderosamente interiorizada, a ideia romântica da morte. Proponho que o ouvejamos guiados por J. J. Soleil e G. Lelong
[As obras-chave da música. Lisboa: Pergaminho, 1991, p. 116],
na leitura do Quarteto Alban Berg:
1º andamento
Um tema muito incisivo rebenta fortissimo desde o primeiro compasso do allegro inicial. Vai renovar-se sem cessar num desenho melódico impregnando com o seu carácter atormentado os desenvolvimentos de um segundo tema, menos sombrio e menos violento, mas a que audaciosas modulações imprimem um acento patético. Nos últimos compassos deste andamento, depois de um crescendo animado, instaura-se uma calma relativa, enquanto o 1º violino expõe mais uma vez o tema inicial num tom de uma extrema melancolia.
2º andamento
O 2º andamento (andante con moto) tem por motivo condutor a ária trágica do Lied do mesmo nome, mas na tonalidade (Sol Menor) do Rei das Varas, outro Lied fúnebre de que o 4º andamento se fará eco novamente.
[Este andamento tem por motivo a ária trágica do lied “A Morte e a Donzela“, composto em 1817. “Nada temais, diz a Morte. Dá-me a tua mão, sou tua amiga” — assim começa um outro guia de audição deste andamento, que pode ler aqui]
3º andamento
Para criar um clima de descompressão depois destas duas peças de humor particularmente negro sem alterar o significado dramático da sua composição, Schubert passa a um scherzo (allegro molto) bastante breve, com acentos rítmicos vigorosos tornados mais intensos ainda pela alternância de tonalidades maiores e menores. Um trio, no centro do scherzo, substitui “um instante de felicidade” (Alfred Einstein) por uma agitação emocional que o último andamento (Presto) vai levar ao seu auge.
4º andamento
O quarteto termina, com efeito, num final freneticamente animado, combinando a estrutura da sonata com a do rondó: pelo seu ritmo obcessivo rápido, a evocação ininterrupta do tema principal da obra e a manutenção constante da tonalidade de Ré Menor, este último andamento foi visivelmente concebido para deixar uma impressão de conclusão precipitada.