ECOS: 23. Inteligência e religiosidade

Deus e a ciência

O número 265 (Hors-série) da revista francesa Science & Vie (dezembro/2013) é dedicado ao tema Deus e a ciência. Fecha-o um mini-dossiê Sabia que…?  — breves notas sobre alguns temas como uma correlação entre o grau de religiosidade e uma melhoria global da saúde; ou “A oração reforça a memória”; “Os crentes suicidam-se menos que os outros”; “O hospital reconhece os poderes do espírito”; ou… “Quanto mais inteligente se é, menos se crê“. Sobre este último tópico, escreve-se (negritos meus):

A constatação pode parecer um tanto tendenciosa, mas a verdade é que alguns cientistas se colocaram esta pergunta: existe alguma ligação entre quociente intelectual e sentimento religioso? Uma publicação inglesa de 1958 concluía já que “os estudantes inteligentes são menos propensos a aceitar as crenças ortodoxas e “ainda menos” suscetíveis de adotar atitudes pró-religiosas”. Por sua vez, em 2009, Richard Lynn, da Universidade de Ulster, na Irlanda do Norte, publicava uma meta-análise onde estabelecia uma correlação negativa entre inteligência e religiosidade. Entre os seus argumentos mais fortes estava uma análise dos dados de um vasto estudo recente sobre a saúde dos adolescentes norte-americanos, no qual o QI era avaliado e eram colocadas perguntas sobre a prática religiosa. Ora, o grupo dos “totalmente não religiosos” apresentava o QI mais elevado. Lynn sublinha ainda que o sentimento religioso é menos comum entre a elite intelectual (por exemplo, entre os cientistas [como se analisa noutro artigo da revista]) . Além disso, observa um declínio das convicções religiosas com o aumento da idade (e, portanto, das capacidades cognitivas) nas crianças e adolescentes. E, finalmente, observa uma baixa das práticas e do sentimento religioso ao longo do século XX na Europa e nos Estados Unidos com o aumento do nível de instrução.

Como o próprio texto sublinha, estamos, naturalmente, perante um assunto “muito controverso, designadamente porque a inteligência continua a ser um parâmetro eminentemente difícil de medir”. Por isso, pergunto: o que pensa o leitor sobre isto?

4 thoughts on “ECOS: 23. Inteligência e religiosidade”

  1. Olá amigo António

    Será que existe? A relação de que fala? Salvo erro foi Einstein que disse “pouca ciência afasta de deus muita ciência aproxima” eu não acredito que deus exista mas não sei a que deus se referia o físico que citei…sei que me ouço por vezes a dizer “meu deus!” ou “ajuda-me meu deus!” isso faz de mim crente em deus? Se existe não sei, se existe sei que não é um ser bom como dizem, se não acreditar nele é sinonimo de pouca inteligência também não sei….diga-me o meu amigo 🙂

    1. Olá, Magda!

      É verdade que Einstein defendeu (como é sublinhado num texto da revista sobre o descobridor da relatividade) que quanto maior é o nosso conhecimento do Universo mais próximos estamos de Deus.

      No entanto, como o referido texto faz notar, o Deus de Einstein não é o das “clássicas” religiões monoteístas (Judaísmo, Cristianismo, Islamismo); não é um Deus criador, um Deus que castiga ou recompensa, não é, portanto, um Deus pessoal — aproxima-se mais do Deus (panteísta) de Spinoza: Deus e a Natureza são dois nomes para uma mesma realidade, Deus é a própria Natureza. A uma adolescente que lhe perguntava (em 1936) pela relação dos cientistas com a oração, Einstein responde que quem quer que se dedique à ciência depressa se convence de que “um espírito se manifesta nas leis do Universo, um espírito bem superior ao do Homem” e que, portanto, “o trabalho científico conduz a um certo sentimento religiosos que é, seguramente, muito diferente da religiosidade de alguém mais naïf“.

      Pessoalmente… parece-me que o único Deus “possível” é o do panteísmo. O Deus pessoal das religiões referidas levanta imensos problemas; por exemplo, este: como pode um Deus criador, distinto do Universo, ser infinito, se há algo “para além dele” (o Universo)?

  2. uma achega para a investigação produzida:

    “Um jovem universitário, muito progressista e cheio de si, estando de visita à sua terra natal, foi visitar o velho rabi.
    — Sabe, rabi, descobri que não acredito em Deus.
    — Não faz mal, meu filho, Deus acredita em ti.
    — Não está a perceber, rabi, eu sou ateu.
    — Mas costumas ler a Torah?
    — Não, não me diz nada.
    — Mas ao menos estudas o Talmude…?
    — Não, rabi, essas velharias não me interessam.
    — Mas então, meu filho, tu não és ateu, és um ignorante!

    os excessos do discurso religioso baseados no temor e no tremor, desvaneceram-se com o progresso, a ciência e a emancipação da razão em relação à fé, é hoje um assunto sem assunto. mas no princípio, no meio e no fim da existência humana baseada na reflexão e no pensamento está a atitude religiosa porque continua a permanecer o absoluto desconhecimento da razão de ser da existência à qual chegamos sem saber porquê e da qual saímos sem saber para onde… e para estas perguntas a muita ciência supõe, mas não dispõe de qualquer demonstração.
    é por isso que a religião, enquanto houver seres inteligentes a povoar o mundo, estará sempre presente no nosso quotidiano, para acreditar, para rejeitar, para suspender… foi é e continua a ser um manancial de investigação a que ninguém escapa… mesmo que queira.

    1. Sem dúvida, que a religião penetra toda a existência humana. Maria Zambrano escreveu um livro magnifico, intitulado “O Homem e o Divino” onde examina a permanência do divino e da religiosidade ao longo da evolução humana e que diz a certa altura «… a instância do sagrado é uma instância da realidade da própria vida… é consubstancial à vida humana» e ainda «O homem não se liberta de certas “coisas” quando elas desaparecem e menos ainda quando é ele próprio quem consegue fazê-las desaparecer.

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