Livre arbítrio caro

Desidério Murcho justifica, aqui, a filosofia, esclarecendo o que (não) está em questão quando se procura justificá-la e distinguindo, para o efeito, “cinco ideias bastante diferentes: 1) a justificação fraca da actividade filosófica; 2) a justificação forte dessa actividade; 3) a justificação do ensino da filosofia; 4) a justificação do ensino obrigatório da filosofia; e 5) a justificação do financiamento da filosofia com o dinheiro dos contribuintes”.

A leitura do artigo recordou-me uma notícia de inícios do ano passado e que nos surpreende com um raríssimo financiamento da filosofia:

O filósofo Alfred Mele, da Universidade da Florida, recebeu uma bolsa de 4,4 milhões de dólares da Fundação John Templeton, para investigar a fundo a questão do livre arbítrio.

Mele, H. William e Lucyle Werkmeister supervisionarão o projeto Free Will: Human and Divine – Empirical and Philosophical Explorations (O livre arbítrio: sobre o humano e o divino – Explorações empíricas e filosóficas)“, a desenvolver durante quatro anos, para melhorar a compreensão do livre arbítrio na perspetiva da filosofia, da religião e da ciência.

Como se recorda na notícia, no sítio da Universidade da Florida, durante milhares de anos a questão do livre arbítrio permaneceu confinada ao domínio da filosofia e da teologia. Mas, nos últimos anos, a neuro-ciência avançou dados que mostram que a génese da ação do cérebro começa muito antes de a consciência tomar qualquer decisão sobre qual ação realizar, perante várias opções. Se isto for verdade, o controlo consciente da ação (condição necessária ao livre arbítrio) é simplesmente impossível. É assim que alguns psicólogos sociais acreditam que o nosso comportamento é controlado por processos inconscientes, conjugados com as condições ambientais, e não pelas nossas escolhas conscientes.

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