O coração anda espalhado pelos versos dos poetas.
Aquele peso em mim — meu coração, como escreveu Fernando Pessoa, o qual garantiu ainda
Eu tenho ideias e razões,
Conheço a cor dos argumentos
E nunca chego aos corações.
Em muitos casos, encontramos corações partidos. Ou do(lo)ridos. Ainda o de Pessoa:
Meu coração é uma ânfora que cai e que se parte…
O teu silêncio recolhe-o e guarda-o, partido, a um canto…
e
Meu coração é um pórtico partido
Dando excessivamente sobre o mar.
e
O que me dói não é
O que há no coração
Mas essas coisas lindas
Que nunca existirão…São as formas sem forma
Que passam sem que a dor
As possa conhecer
Ou as sonhar o amor.
Isso!… coração/amor/imaginação… e escrita. Continuando com Pessoa:
Dizem que finjo ou minto
Tudo o que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!
Roberto Mendes musicou versos de Fernando Pessoa onde palpita o mesmo tema. Maria Bethânia cantou-os; ouça as Quadrinhas (no vídeo seguinte, aos 2’10”), juntas a outros versos de Pessoa:
Para qualquer efeito (por exemplo, cantar com Bethânia), eis os referidos versos:
Quem tem dois corações
Me faça presente de um
Que eu já fui dono de dois
E já não tenho nenhumDá-me beijos dá-me tantos
Que enleado em teus encantos
Preso nos abraços teus
Eu não sinta a própria vida
Nem minh’alma ave perdida
No azul amor dos teus céusBotão de rosa menina
Carinhosa, pequenina
Corpinho de tentação
Vem morar na minha vida
Dá em ti terna guarida
Ao meu pobre coração.
Quando passo um dia inteiro
Sem ver o meu amorzinho
Cobre-me um frio de janeiro
No junho do meu carinho.
[Este é o segundo de um conjunto de textos subordinados ao tema Maio, mês do coração. O anterior: O Homem é razão e coração].