Como movimento filosófico, político, social e cultural, o peso do marxismo nos últimos séculos é difícil de igualar. E apesar disso, odiado ou reverenciado, este ‘ismo’ continua a ser muito desconhecido e mal interpretado… No número 42 da revista espanhola Filosofía Hoy, Luis A. Iglesias Huelga, professor de Filosofia no Instituto de Enseñanza Secundaria Escultor Daniel (Logroño), sintetiza assim o marxismo:
O que é?
O marxismo é uma filosofia da história e da sociedade que propõe uma interpretação do desenvolvimento da história a partir de coordenadas materialistas e dialéticas. Não é fácil caracterizar o marxismo com precisão, e talvez por isso foi muitas vezes mal interpretado e não poucas caricaturado. Por tópicos, o marxismo apresenta três dimensões claramente identificáveis:
- uma dimensão económico-sociológica, enquanto teoria da sociedade;
- uma dimensão política, já que implica uma práxis orientada para a mudança política e social;
- e uma dimensão crítico-filosófica, expressa no que a teoria marxista supõe de reação à filosofia anterior plasmada no idealismo hegeliano e no materialismo de Feuerbach.
Qual é a sua origem e os seus principais expoentes?
Marx vive em pleno século XIX, um período convulso em todos os domínios, fundamentalmente no contexto social e económico, em que o desenvolvimento do mercado livre cria a figura do trabalhador assalariado. Acontecimentos como a revolução burguesa de 1848, a situação da classe operária em Inglaterra ou a Comuna de Paris de 1871 nutrem a configuração do marxismo enquanto teoria e prática. As três fontes principais da obra de Marx, como assinalou Lenine, foram:
- A filosofia clássica alemã (Hegel e Feuerbach, fundamentalmente).
- A economia política inglesa (Adam Smith e David Ricardo).
- O socialismo utópico (Owen, Fourier e Proudhon).
Qual é o seu papel na história do pensamento?
Tal como Friedrich Engels, o qual realizou uma aguda descrição da revolução industrial na sua obra A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, Marx afirmou que as condições materiais da vida dos seres humanos determinaram sempre a sua forma de viver e de pensar, isto é, o seu devir histórico.
O marxismo, hoje…
A atualidade do marxismo inscreve-se no facto de conceitos como alienação, estrutura económica, modo de produção, relações de produção ou classe social, receberem um novo sentido neste momento de crise económica. Marx foi o primeiro a explicar como surgiu o capitalismo, quais eram as leis pelas quais se regia e a possibilidade de lhe pôr fim. Sem o marxismo não se pode explicar a história do século XX nem as conquistas dos direitos dos trabalhadores. Terry Eagleton afirma:
“Se Newton descobriu as forças invisíveis e Freud pôs a descoberto o funcionamento de um fenómeno invisível conhecido como o inconsciente, Marx desmascarou a nossa vida quotidiana e desvelou a, até então, impercetível entidade a que chamou modo capitalista de produção. Talvez seja por isso que o marxismo voltou”.
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||| O texto O socialismo tem futuro? é uma recensão conjunta de quatro livros que podem servir de guia para uma releitura, crítica, do marxismo tradicional, à luz da evolução e das experiências históricas do socialismo.