Hoje, 7/janeiro/2015, três homens vestidos de negro invadiram a sede do semanário Charlie Hebdo, em Paris, com lança-foguetes e kalachnikovs, provocando vários mortos, entre os quais, o diretor da publicação, três ilustradores e dois polícias.
O semanário satírico Charlie Hebdo já esteve várias vezes no centro de polémicas, designadamente, ao publicar representações do profeta Maomé – “algo levado muito a mal pelos seguidores de interpretações estritas do livro sagrado dos muçulmanos, o Corão. Este espírito de enfrentar tabus, correndo o risco de ser chamado explorador de escândalos, no mínimo, ou até racista, é a alma desta publicação alinhada à esquerda”. Foi “a republicação dos cartoons de Maomé do jornal dinamarquês Jyllands-Posten em 2006 que tornou o Charlie Hebdo internacionalmente famoso. […] Foi processado por várias organizações religiosas islâmicas”. Além dos integristas muçulmanos, opositores do casamento gay, judeus, Marine Le Pen, François Hollande, o Vaticano, todos já foram alvo dos desenhos satíricos e mordazes do semanário.
Para além da condenação do ato, é possível colocar algumas reflexões. No texto La matanza en ‘Charlie Hebdo’: algo más que barbarie, a jornalista e analista política Elena Martí explicita a ideia de que há duas em cima da mesa:
- como relacionar o sucedido com o cenário político-institucional francês e
- que auto-limites devem fixar os meios de comunicação quando tratam de assuntos religiosos.
Proponho que nos centremos na segunda…
O presidente francês, François Hollande, elogiou os “corajosos cronistas” do Charlie Hebdo; o ataque ao jornal é comummente entendido, no chamado ‘mundo ocidental’, como um ataque à liberdade de expressão, que seria ilimitada. Mas há quem defenda que a liberdade de expressão tem limites; por exemplo, no Express Yourself, há dois anos, pedia-se o “fim das provocações de Charlie Hebdo“, em nome dos valores da democracia (francesa).
Se quisermos generalizar, o problema pode colocar-se em termos de tolerância: