O pintor norueguês Edvard Munch nasceu a 12 de Dezembro de 1863, em Løten.
No seu quadro mais famoso, O Grito
[do qual existem cinquenta versões para além do quadro de 1893, actualmente na Nasjonalgalleriet de Oslo],
“observamos o medo e a solidão do Homem num cenário natural que — longe de oferecer qualquer tipo de consolação — absorve o grito e o faz ecoar por detrás da baía até aos vultos sangrentos do céu. A baía, os pequenos barcos à vela e a ponte com a balaustrada cortando diagonalmente o quadro sugerem que o cenário era Nordstrand.
O diário de Munch contém uma passagem escrita em Nice durante um período de doença, em 1892, e o qual faz lembrar esta cena:
‘Estava a passear cá fora com dois amigos, e o Sol começava a pôr-se — de repente o céu ficou vermelho, cor de sangue — Parei, sentia-me exausto e apoiei-me a uma cerca — havia sangue e línguas de fogo por cima do fiorde azul-escuro e da cidade — os meus amigos continuaram a andar e eu ali fiquei, de pé, a tremer de medo — e senti um grito infindável a atravessar a Natureza’.
O historiador de arte americano Robert Rosenblum sugeriu que a múmia peruana no Musée de l’Homme, em Paris (à esquerda) serviu de modelo a Munch para a sua cabeça da morte. A semelhança da múmia acorrentada, mantendo as mãos levantadas até à cabeça, com a figura na obra O Grito, é de facto impressionante. Podem ser mencionadas as fontes literárias, particularmente a obra de Fiodor Dostoievski (um grande favorito de Munch), e esta passagem do filósofo Soren Kierkegaard (1813-1855) — o qual Munch só viria a ler mais tarde, mas que sem dúvida se relacionou com o pintor a nível do ponto de vista — é digna de citação: ‘A minha alma está tão pesada que nenhum pensamento nunca mais a poderá elevar, nem nenhuma batida de asas a conduz ao alto para o espaço celeste. Se alguma coisa a mover de alguma forma, ela apenas raspará o chão, como um pássaro a voar baixo depois da tempestade. A opressão e a ansiedade estão a meditar rancorosamente no meu ser interior, pressentindo um tremor de terra.’
E há também o poeta Rainer Maria Rilke (1875-1926), a quem foi pedido para escrever um artigo sobre Oskar Kokoschka em 1920. Na sua carta de recusa (a Arpad Weingärtner, em 12 de Abril de 1920) Rilke escreveu sobre as linhas nos quadros de Munch, e devendo ter em mente o quadro O Grito quando o fez: «As linhas de Munch já incluem este poder construtivo de terror — mas existe muito mais Natureza nele do que em Kokoschka, e assim ele foi sempre capaz de reconciliar os opostos de preservação e destruição puramente em termos espaciais, para neutralizar a sua agudeza numa imagem ou pintura…’ ”
(Ulrich BISCHOFF. Edvard Munch: 1863-1944: imagens de vida e de morte. Colónia/Lisboa: Taschen/Público, 2004, p. 53-55)