Natural de terra de artistas paleolíticos (Vila Nova de Foz Côa) e professor de Filosofia na Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes (Portimão), Aires Almeida já foi aqui apresentado aos leitores d’O meu baú. Revela-nos, a seguir, as suas leituras do momento…
O que ando a ler:
Comecei agora a ler Guitar Zero – The Science Of Learning To Be Musical, do psicólogo e cientista cognitivo Gary Marcus, publicado no ano passado pela Oneworld Publications. Trata-se de um interessante e divertido estudo de caso sobre a aprendizagem musical e os processos psicológicos subjacentes. O caso estudado é o do próprio autor, Gary Marcus, um exemplo reconhecido de inaptidão musical, mas que aos 40 anos decide deixar de ser o tal guitar zero para se tornar no razoável guitarrista rock que sempre desejou ser. E com isso Marcus, que dirige o New York University Center for Language and Music, procurou testar algumas das ideias comuns sobre psicologia cognitiva, nomeadamente a ideia de que há uma melhor idade para aprender certas coisas (como aprender a tocar instrumentos musicais, a falar línguas estrangeiras, etc.) e a ideia não menos comum de que há o chamado Factor G (factor genético), que supostamente faz umas pessoas nascerem para a música e outras dedicarem-se antes à pesca. As conclusões a que Marcus nos quer fazer chegar é que tudo isso não passa de mitos sem qualquer sustentação empírica, introduzindo informação científica que ele melhor do que ninguém domina, e dando como contraexemplo o seu próprio caso. Apesar de competentes professores de guitarra declararem que Marcus padecia de arritmia congénita, ele acabou mesmo por se tornar um guitarrista razoável. E tudo isso começou com o conhecido jogo Guitar Hero, com qual aprendeu a respeitar o ritmo.
Como o descobri:
Descobri-o há cerca de um ano numa livraria de Londres, enquanto procurava publicações recentes de filosofia e outras novidades.
Vale a pena lê-lo?
Sem dúvida, até porque o livro reúne três características improváveis: é um livro de ciência, surpreendente e informativo; é um divertido livro sobre música; e é um curioso livro autobiográfico. É, além do mais, um livro animador para quem pensa que já é tarde para aprender a tocar um instrumento musical. Em especial para quem aprecia música rock, o livro está repleto de pequenas curiosidades, até porque Marcus conhece pessoalmente algumas estrelas rock. De resto, os títulos dos capítulos são, na sua maioria, títulos de conhecidas músicas rock (dos Talking Heads, de George Harrison, dos Led Zeppelin). Gostaria mesmo de ver brevemente tradução portuguesa.
Onde o tenho lido:
Onde calha, como acontece com todos os outros livros. Mas calha mais frequentemente em casa, que é onde me encontro mais frequentemente. Ainda não calhou levá-lo para a praia, mas talvez calhe já amanhã ou depois.
*****
Conheça as razões por que Martim de Gouveia e Sousa recomenda a leitura de As luzes de Leonor, de Maria Teresa Horta,
e Carlos Lopes, As velas ardem até ao fim de Sándor Márai.