[Capa do álbum Pictures at an Exhibition de merson, Lake & Palmer]
Há quem distinga a música clássica de outros tipos de música pela exatidão. Neste sentido (e utilizando palavra de Bernstein): “se um compositor escreve uma peça daquilo que vulgarmente se chama música clássica, ele escreve exatamente as notas que quer, indicando os instrumentos ou as vozes que hão de tocá-las ou cantá-las — e até exatamente o número de instrumentos ou de vozes. O compositor também escreve tantas indicações quantas lhe passam pela cabeça, para explicar aos instrumentistas ou cantores, o mais cuidadosamente possível, tudo aquilo que eles precisam de saber a respeito de ir depressa ou devagar, forte ou suave, e milhões de outras coisas que ajudem os executantes a dar uma exata realização dessas notas que o compositor congeminou”.
Por isso, entende-se como regra que o esforço dos executantes deve exercer-se no sentido de tentar descobrir o que o compositor escreveu de facto
[que essa descoberta não é mais do que um horizonte — sempre longínquo — demonstram-no as diversas interpretações da mesma obra — às vezes, do mesmo intérprete em épocas diferentes, como é o caso paradigmático da interpretação que Glenn Gould fez das Variações Goldberg de Bach].
Por isso também, há quem rejeite todas as “invenções” em torno de uma obra clássica — ao contrário da chamada música ligeira, onde “não acabam mais as maneiras como [uma canção] pode ser tocada” (ainda as palavras de Bernstein). Já as transcrições são mais pacíficas (porque elas permitem distinguir a obra original da obra transcrita?).
Se excetuarmos Bach
[cuja música tem sido objeto dos “tratamentos” mais diversos, alguns dos quais interessantes — como, por exemplo, o projeto Lambarena],
Quadros de uma exposição de Mussorgsky é uma das obras (entendamo-nos… das obras que conheço!) com mais transcrições. Originalmente, é uma suite para piano (de 1874) constituída por 10 peças.
Mas é mais conhecida, atualmente, a versão — colorida, orquestrada — de Ravel (1922):
Entretanto, como disse, as transcrições são incontáveis. Sirva de exemplo esta, para guitarra:
…ou, mais transgressiva, esta polémica “versão” rock progressivo:
A versão orquestrada é mais impressionante do que a original — embora haja algum consenso sobre que é menos intensa. Ouveja-se o espetáculo (também visual) a que pode dar origem:
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