Ano Novo: o rosto de Jano

Quando começa o Ano Novo? uma pergunta pertinente

Sei que corro o risco de algum leitor, lendo o título deste texto, se perguntar se não terei perdido o tino. Os ruidosos festejos generalizados, em público e em privado, com que recebemos o Ano Novo, na noite de 31 de dezembro, não deixam lugar para qualquer dúvida sobre a data. Mas, apesar disso…

Entre os egípcios, os caldeus, os persas, o ano começava no equinócio do outono, a 22 de setembro. Os chineses festejam (atualmente!) a entrada no Ano Novo entre 20 de janeiro e 18 de fevereiro do nosso calendário gregoriano. Vale a pena conhecer como “funciona” o calendário chinês (simultaneamente solar, como o nosso, mas também lunar), o início imensamente festivo do ano novo e as respetivas tradições, incluindo a do animal-signo de cada ano: 2020 começará a 25 de janeiro, iniciará um novo ciclo e será o ano do Rato.

Entre os tibetanos, a data também varia todos os anos. A 29 de setembro de 2019, começou o Ano Novo judaico (Rosh Hashaná, em hebraico), o 5780; as celebrações têm início no 1º dia do 1º mês (Tishrei) do calendário judaico, que geralmente corresponde a setembro ou outubro do calendário gregoriano; não é uma ocasião para o excesso e a alegria incontrolada, explicam os rabinos, é antes momento de reflexão.

Ano Novo: o rosto de Jano[Jano, busto nos Museus Vaticanos]

Janeiro, o primeiro mês do Ano Novo

Nos nossos dias, a maioria dos países rege-se pelo calendário gregoriano, pelo que é a 1 de janeiro que em grande parte do globo se lançam os tradicionais fogos de artifício. Contudo, esta data foi fixada só a partir de 1582. Ou antes, voltou a ser fixada, porque o imperador romano Júlio César, com a promulgação de um novo calendário, em 45 a.C. já tinha decretado que fosse esse o começo do ano novo. Janeiro tinha um significado especial para os antigos romanos: a palavra janeiro deriva de Janus, o deus a quem o mês era consagrado. Uma das mais antigas e mais importantes divindades do panteão romano (com uma certa preeminência sobre Júpiter), Jano tem duas caras, opostas uma à outra e colocadas, uma, diante da cabeça (para olhar o futuro) e outra, atrás (para olhar o passado); o seu templo tem igualmente duas portas opostas. Jano presidia ao começo das coisas e representa, assim, a passagem dum ano a outro.

A conotação demasiado pagã do dia 1 de janeiro levou a que na Idade Média a data fosse variavelmente alterada para o Natal, a Páscoa ou, o mais comum, para 25 de março, dia em que o anjo Gabriel apareceu à virgem Maria para lhe anunciar que iria dar à luz o filho de Deus: começa nesse dia a história de Cristo e por isso faria sentido que começasse também um ano novo.

Em 1582, com o novo calendário gregoriano (promulgado pelo papa Gregório XIII) retoma-se progressivamente o começo do ano a 1 de janeiro. Digo “progressivamente”, porque a Inglaterra, por exemplo, que se tinha rebelado contra a autoridade do papa, manteve a data de 25 de março, até 1752. E porque, como se referiu já, continuam a ser festejadas outras datas.

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||| O texto Quando começa o Ano Novo?

… é o segundo da série Histórias exemplares. O primeiro (Em que data é o Natal?) está aqui. O terceiro (Heroico Beethoven) está aqui.

||| Pode ler mais: Pourquoi fête-t-on la nouvelle année ?

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