- No ensino, um dos atuais temas candentes — ainda que ao cidadão comum possa não (trans)parecer — é o dos exames. É público que o ministério respetivo está a apostar fortemente na realização de mais exames e em mais disciplinas. Com o apoio de “setores” que neles veem (como, aliás, o ministro) um instrumento de avaliação objetivo, permitindo distinguir com rigor os alunos que sabem dos que não sabem.
- Hoje, milhares de alunos foram submetidos ao exame de Matemática. À tarde, no exterior de um centro de explicações, passei por um grupo de alunos que, com a prova na mão, seguia os comentários da explicadora. Ao chegar suficientemente perto, pude ouvi-la ler um item da prova, explicar a resolução e concluir
— Ainda ontem fizemos aqui isto!
Obteve como resposta, de um aluno, um movimento brusco de vai-vem do braço direito e um sonoro yesssssssss!
- Um dos senão dos exames é a sorte (ou, visto do reverso, o azar). A má sorte pode ditar uma daquelas menstruações ou dores de cabeça que inibem qualquer raciocínio decente; ou o infortúnio de um inesperado e incontrolável stress; ou a desgraça de uma noite muito mal dormida… Contudo, a faca com a qual a sorte (a boa ou a má) pode provocar mais danos no rigor da avaliação através dos exames talvez seja a escolha dos conteúdos a testar. O que calha (ou não calha) no exame, particularmente nas questões com mais pontuação — eis um dos problemas que os estudantes se colocam em vésperas de exames. Não é indiferente acertar ou não acertar.
- Neste ponto, a chamada avaliação contínua ganha aos exames, com grande vantagem. Ganhará noutros pontos? O resultado de um balanço geral penderá para qual dos dois lados? Deixo a resposta para os leitores.
Gomes, se foram leccionados 10 conteúdos, o exame não tem de mandar os alunos estudar esses 10 para testar somente 3. Se o exame quer testar se o aluno sabe o conteúdo X, Y e Z, que peça somente o estudo desses conteúdos. Há anos que faço isso nos testes. Se estudamos os argumentos de Hume, de Descartes e os de Leibniz e eu só quero testar os alunos nos 2 primeiros, digo-o explicitamente. Se em Descartes só quero saber se os alunos sabem objectar o argumento do sonho, digo-o. Neste teu texto confundes um aspecto muito comum quando se fala de exames, que é a existência de exames, com a existência de bons exames. E a minha posição tem sido clara: se tivessemos bons exames, valeria a pena tê-los. Como eles incorrem nas arbitrariedades que aqui enunciaste, mais vale não os ter. Mas isto não é nenhum argumento contra os exames, mas contra os exames mal feitos, que é outra coisa que tu pareceste não compreender muito bem.