- Na semana do Dia Internacional da Mulher, recordo o que, há tempos, o novo cardeal católico português D. Manuel Monteiro de Castro afirmou: A mulher deve poder ficar em casa, ou, se trabalhar fora, num horário reduzido, de maneira que possa aplicar-se naquilo em que a sua função é essencial, que é a educação dos filhos.
Interessa-me aqui sobretudo a ideia de uma função essencial feminina: a) haverá uma essência feminina (detetável nas suas funções)? b) haverá na educação uma função essencialmente feminina?
- A essência de uma coisa é aquela(s) característica(s) que faz(em) com que essa coisa seja o que é e sem a(s) qual(is) essa coisa não será/seria o que é. Aplicando: se o Homem for essencialmente um animal racional, então sem a animalidade e a racionalidade (as suas características essenciais) não haverá qualquer espécime de Homem: se for animal mas não racional, será… peixe, por exemplo, mas não Homem; se for racional mas não animal, será… anjo, por exemplo, mas não Homem.
Do mesmo modo, se na educação dos filhos a presença da mulher for essencial, então sem essa presença não haverá a dita educação (poderá daqui concluir-se que a educação dos filhos é característica essencial da mulher?).
- Qual será para D. Manuel (e para a Igreja Católica?) a essência da mulher?
Como o Génesis atesta, a maldição bíblica da mulher é original. Eva chama-se assim, porque foi tirada (de uma costela) do homem. É Eva quem cede à tentação da serpente, faz o homem cair no embuste e torna-se, assim, a raiz de todos os males. A “essência” da mulher fica definida no castigo (de Eva e de todas as mulheres), a saber: as dores do trabalho de parto e a sujeição à autoridade do homem. “Procurarás com paixão o teu marido, a quem serás sujeita”, decreta Deus. A mulher é, por essência de atribuição divina confirmada por Adão, “mãe de todos os viventes“ – logo, essencialmente, sua educadora. Ao homem compete, essencialmente, trabalhar, obter do solo o sustento, “à custa de penoso trabalho”, “com o suor do seu rosto” (Gn 3, 16-20). O homem trabalha – fora de casa. A mulher educa – dentro de casa.
- Esta essência (quase) original é recordada ao longo de outros escritos bíblicos, de onde sobressaem os de São Paulo. Baste esta passagem, entre outras possíveis: “calem-se as mulheres nas assembleias, pois não lhes é permitido falar; mostrem-se submissas, como diz a própria Lei. Se quiserem aprender alguma coisa, perguntem-no em casa aos seus maridos” (I Cor 14, 34-36). Em casa, sublinhe-se.
- Que as mulheres trabalhem “em casa sim, mas que tenham de trabalhar de manhã até à noite, creio que para um país é negativo. A melhor formadora é a mãe, e se a mãe não tem tempo para respirar como vai ter tempo para formar” – ainda palavras de D. Manuel, em perfeita sintonia com a definição essencial da Bíblia. “Um país depende muito, muito das mães, pois é ela que forma os filhos. Não há melhor educadora que a mãe”.
E o leitor, o que é que o leitor pensa sobre o assunto?
Este texto foi publicado no semanário Jornal do Centro.