Determinismo e liberdade na ação humana

  • I – ABORDAGEM INTRODUTÓRIA À FILOSOFIA E AO FILOSOFAR
  • II – A AÇÃO HUMANA E OS VALORES
    1. A ação humana — análise e compreensão do agir
      • Determinismo e liberdade na ação humana
    2. A dimensão ético-política — análise e compreensão da experiência convivencial [Ética]
    3. Ética, direito e política — liberdade e justiça social; igualdade e diferenças; justiça e equidade [Filosofia Política]
  • III. TEMAS/PROBLEMAS DO MUNDO CONTEMPORÂNEO

DETERMINISMO E LIBERDADE NA AÇÃO HUMANA [Metafísica]

O aluno deve ficar capaz de…

  • Formular o problema do livre-arbítrio, justificando a sua pertinência filosófica.
  • Enunciar as teses do determinismo radical, determinismo moderado e libertismo enquanto respostas ao problema do livre-arbítrio.
  • Discutir criticamente as posições do determinismo radical, do determinismo moderado e do libertismo e respetivos argumentos

Determinismo e liberdade: o problema central…

…é: temos livre-arbítrio?

O texto Livre-arbítrio define o conceito e mostra onde está o problema (devemos distinguir livre-arbítrio de outros conceitos como o de liberdade política ou liberdade de movimentos — como a de poder paricipar numa manifestação contra o nuclear).

  • A resposta mais óbvia à pergunta anterior parece ser sim: sentimos que temos capacidade para decidir sobre as nossas ações de modo pelo menos parcialmente livre. Temos consciência de que, por vezes, agimos mal mas poderíamos ter feito outra coisa; de que, portanto, temos a capacidade de poder agir escolhendo entre um leque de alternativas possíveis — entre ser vegetariano ou carnívoro, votar no partido A ou B…

  • No entanto, uma coisa é ter a sensação de (acreditar) que somos livres; outra, que o sejamos de facto: essa convicção poderá estar errada e as nossas decisões, que nos parecem livres, poderão ser uma ilusão.
    • Esta é a posição do determinismo: todo o acontecimento, incluindo as nossas ações, é consequência necessária de acontecimentos anteriores e de leis da natureza. Baseia-se no princípio da causalidade; só o que acontece é possível, o que não aconteceu era impossível ter acontecido. As nossas decisões também estão causadas (ainda que por vezes essas causas sejam difíceis de determinar) — a nossa personalidade (modo de ser, de pensar, de agir…) é o resultado da conjugação da hereditariedade e do ambiente (físico e social).
    • Para saber mais: no texto Determinismo — o que defende esta teoria? identifica-se com o fatalismo ou o destino?
    • Para saber mais: no texto E a liberdade? — investigações no domínio da psicobiologia perinatal recolocam o problema da liberdade

  • A defesa do determinismo cria… um quebra-cabeças.
    • Segundo esta teoria, se conhecêssemos totalmente as causas das nossas ações, verificaríamos que elas aconteceram como tinham de acontecer, que não havia alternativas. Sendo assim, não deveríamos ser responsabilizados pelo que fazemos, pois só podemos ser responsabilizados por aquilo de que somos responsáveis: como nos podem pedir responsabilidades, se é inevitável agirmos como agimos? No entanto, aceitamos facilmente que é justo responsablizar os seres humanos pelas suas ações, pelo menos algumas vezes; o que implica aceitar que teria sido possível, nessas situações, agir de outra forma.
    • Teremos, então, de concluir que é possível aceitar estas duas coisas: a) que não há alternativa ao que acontece; mas que b) as pessoas são (por vezes) livres para agir de modo diferente. Será assim?…
    • Estamos, então, perante um…

… segundo problema:

Haverá a possibilidade de o livre-arbítrio ser compatível com o determinismo? Ou será necessário negar o determinismo, se quisermos defender que há liberdade humana?

  • A esta pergunta, os defensores do compatibilismo (ou determinismo moderado) respondem que sim: que determinismo e livre-arbítrio são compatíveis; que, embora tudo esteja determinado por causas, incluindo as nossas ações, é possível às pessoas alterarem o rumo da ação (por exemplo, sentimos vontade de dormir por causa do cansaço, mas controlamos essa vontade), escolherem maneiras diferentes de agir (por exemplo, não agredir alguém que nos trata mal). Em síntese, a determinação causal pelas leis da física (ou pela vontade de Deus, numa perspetiva religiosa) é compatível com a liberdade e responsabilidade humanas”. Portanto, temos livre-arbítrio.
  • O oposto do compatibilismo é o incompatibilismo. Segundo esta perspetiva, se aceitarmos o determinismo, teremos de rejeitar o livre-arbítrio; se aceitarmos o livre-arbítrio. Por isso, o incompatibilismo não afirma simplesmente que o livre-arbítrio existe ou não existe; há, antes, várias versões do incompatibilismo:
    • o libertismo, segundo o qual temos livre-arbítrio. Portanto, nem tudo está determinado e o determinismo é falso. Apenas o domínio físico é estritamente determinista;
    • o determinismo radical, que nega a existência do livre-arbítrio: tudo está determinado e, portanto, o livre-arbítrio é uma ilusão.
    • Para saber mais: texto É possível o livre arbítrio? — Sam Harris defende que não.

Tanto o determinismo radical como o determinismo moderado insistem na verdade do determinismo: todo o acontecimento, incluída a acção humana, é o resultado necessário de causas anteriores que operam de acordo com as leis da natureza. A diferença é que, enquanto os deterministas moderados afirmam que isto é compatível com o nosso livre-arbítrio, os deterministas radicais negam que seja assim. Enquanto o determinismo moderado é uma forma de compatibilismo, o determinismo radical é uma forma de incompatibilismo.

Para aprofundar

  • É possível conciliar liberdade e determinismo? No texto A liberdade da vontade, J. Searle discute essa possibilidade.
  • Livre-arbítrio: sobre o problema do livre-arbítrio — ou melhor, três problemas diferentes, e não um apenas. Um ensaio do Professor Desidério Murcho — denso, exigindo leitura atenta, mas muito recomendável. Avaliação da plausibilidade das várias teses em questão (por exemplo, a auto-refutação do determinismo: deixa fora da discussão temas como este do livre-arbítrio, já que está determinado quem terá qual ponto de vista).
  • O 8º capítulo do livro Problemas da Filosofia [Lisboa ; Gradiva], de James Rachels, com o título O ataque ao livre-arbítrio, é dedicado a este tema

Leibniz estudou o problema do determinismo e liberdade
[Leibniz, um dos filósofos que estudou o problema do determinismo vs liberdade]

Razões para voltar aqui

Este é um artigo em redação… Estão, acima, apresentados os principais problemas deste tema, bem como as teorias que lhes respondem. Progressivamente, irão sendo acrescentados textos (que os desenvolvam, apresentando argumentos e objeções), bem como exercícios de reflexão,

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