Determinismo

Em epistemologia designa a teoria segundo a qual tudo está determinado, isto é, submetido a condições necessárias e suficientes, elas próprias também determinadas. Uma relação é determinada quando existe uma ligação necessária entre uma causa e o seu efeito; neste sentido, o determinismo é uma generalização do princípio da causalidade, que liga cada acontecimento a um outro

(é esta causalidade que o cientista pretende conhecer estabelecendo leis).

Aplica-se antes de mais aos acontecimentos da natureza e, enquanto necessidade cognoscível, opõe-se ao destino: este é uma lei cega que escapa ao homem, enquanto que “um fenómeno pode ser integralmente determinado permanecendo mesmo assim perfeitamente imprevisível (…). O tempo que teremos dentro de seis meses não está escrito em lado nenhum: não está ainda determinado; mas sê-lo-á dentro de seis meses. Assim, o determinismo não é um fatalismo: não exclui nem o acaso nem a eficácia da ação. Ao contrário, permite pensá-los: daí a meteorologia e o guarda-chuva”

(André Comte-Sponville. Dictionnaire philosophique. Paris: Presses universitaires de France, 2001)

O determinismo é a teoria segundo a qual todos e cada um dos acontecimentos do universo estão submetidos a um sistema de causas e efeitos necessários — mesmo aqueles factos que parecem, de algum modo ilusório, serem resultado da liberdade e da vontade. Entre os defensores do determinismo, há quem aplique a teoria apenas a uma parte da realidade — e há quem a estenda a todos os acontecimentos, incluindo as ações humanas.

Algumas pessoas pensam que nunca é possível fazermos qualquer coisa diferente daquilo que de facto fazemos neste sentido absoluto. Reconhecem que aquilo que fazemos depende das nossas escolhas, decisões e desejos e que fazemos escolhas diferentes em circunstâncias diferentes: não somos como a Terra, que roda no seu eixo com monótona regularidade. Mas afirmam que, em cada caso, as circunstâncias que existem antes de agirmos determinam as nossas ações e tornam-nas inevitáveis. O total das experiências, desejos e conhecimentos de uma pessoa, a sua constituição hereditária, as circunstâncias sociais e a natureza da escolha com que a pessoa se defronta, em conjunto com outros fatores dos quais pode não ter conhecimento, combinam-se todos para fazerem com que uma ação particular seja inevitável nessas circunstâncias.

Esta perspetiva chama-se determinismo. A ideia não consiste em que podemos conhecer todas as leis do universo e usá-las para prevermos o que irá acontecer. Em primeiro lugar, não podemos conhecer todas as circunstâncias complexas que afetam uma escolha humana. Em segundo lugar, mesmo quando chegamos a saber alguma coisa acerca dessas circunstâncias e tentamos fazer uma previsão, isso já é uma alteração nas circunstâncias, o que pode alterar o resultado previsto. Mas a previsibilidade não é o que está em questão. A hipótese é que existem leis da Natureza, tal como aquelas que governam o movimento dos planetas, que governam tudo o que acontece no mundo — e que, de acordo com essas leis, as circunstâncias anteriores a uma ação determinam que ela irá acontecer e eliminam qualquer outra possibilidade.

Se isso é verdade, então mesmo enquanto estavas a decidir que sobremesa irias comer já estava determinado pelos muitos fatores que operavam sobre ti e em ti que irias escolher o bolo. Não poderias ter escolhido o pêssego, apesar de pensares que podias fazê-lo: o processo de decisão é apenas a realização do resultado determinado no interior da tua mente.

Se o determinismo é verdadeiro para tudo o que acontece, já estava determinado antes de nasceres que havias de escolher o bolo. A tua escolha foi determinada pela situação imediatamente anterior, e essa situação foi determinada pela situação anterior a ela, e assim sucessivamente, até ao momento em que quiseres recuar.

(Thomas Nagel. Que quer dizer tudo isto?, p. 49-50 [elementos bibliográficos aqui]. Nagel dedica um capítulo [o 6º] à análise do livre arbítrio, confrontando-o com o determinismo.)

Nota d’O meu baú:

… Um dos problemas abordados no tema A ação humana — análise e compreensão do agir do programa de Filosofia (10º ano, ano letivo 2011/12) é o da liberdade da ação. O determinismo é uma resposta possível a esse problema.

Num guião de desenvolvimento do tema, apresentamos argumentos a favor e contra o determinismo.

… Ver também textos sobre Existe a sorte?.

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