QUEM A TEM…
Não hei-de morrer sem saber
Qual a cor da liberdade.
Eu não posso senão ser
desta terra em que nasci.
Embora ao mundo pertença
e sempre a verdade vença,
qual será ser livre aqui,
não hei-de morrer sem saber.
Trocaram tudo em maldade,
é quase um crime viver.
Mas embora escondam tudo
e me queiram cego e mudo
não hei-de morrer sem saber
qual a cor da liberdade.
(Jorge de Sena, Poesia II)
LIBERDADE
Sobre esta página escrevo
teu nome que no peito trago escrito
laranja verde limão
amargo e doce o teu nome.
Sobre esta página escrevo
o teu nome de muitos nomes feito água e fogo lenha vento
primavera pátria exílio.
Teu nome onde exilado habito e canto mais do que nome: navio
onde já fui marinheiro
naufragado no teu nome.
Sobre esta página escrevo o teu nome: tempestade.
E mais do que nome: sangue. Amor e morte. Navio.
Esta chama ateada no meu peito
por quem morro por quem vivo este nome rosa e cardo
por quen livre sou cativo.
Sobre esta página escrevo o
teu nome: liberdade.
(Manuel Alegre, A Praça da Canção)
ASPIRAÇÕES DO LIBERALISMO,
EXCITADAS PELA REVOLUÇÃO FRANCESA,
E CONSOLIDAÇÃO DA REPÚBLICA EM 1797
Liberdade, onde estás? Quem te demora?
Quem faz que o teu influxo em nós não caia?
Porque (triste de mim!) porque não raia
Já na esfera de Lísia a tua aurora?
Da santa redenção é vinda a hora
A esta parte do mundo, que desmaia:
Oh! Venha… Oh! Venha, e trémulo descaia
Despotismo feroz, que nos devora!
Eia! Acode ao mortal, que frio e mudo
Oculta o pátrio amor, torce a vontade,
E em fingir por temor, empenha estudo:
Movam nossos grilhões tua piedade;
Nosso númen tu és, e glória, e tudo.
Mãe do génio e prazer, oh Liberdade!
(Bocage, Sonetos)
AH! COMO TE INVEJO
Ah! Como te invejo,
pássaro que cantas
o silêncio das plantas
— alheio à tempestade.
Vives sem chão
ao sol a cantar
a grande ilusão
da liberdade…
(…com algemas de ar.)
(José Gomes Ferreira, Poesia III)
[…na semana em que se festejou o 25 de Abril]