ECOS: 9. A fé

“[…] a primeira e, demasiadas vezes, a única virtude das religiões monoteístas é a fé, porque é a fé que mantém o rebanho unido, e nos define a Nós, do lado de dentro, contra Eles, do lado de fora. Mas a fé não é uma virtude. A fé é a credulidade: a condição de acreditar em coisas para as quais não há razões. É um vício, e inevitavelmente encoraja outros vícios, incluindo a hipocrisia e o fanatismo. Tem de ser dito, e em voz alta, que não faz mais sentido falar de escolas inspiradas na fé ou em ensino inspirado na fé do que em ciência baseada na superstição ou em debate baseado no terror. Houve e há, evidentemente, pessoas cultas e de espírito aberto a professar vários tipos de fé, mas a sua cultura e abertura de espírito verificaram-se apesar das suas superstições, não por causa delas. A fé é, na sua essência, inimiga da educação e da cultura, as quais ensinam as pessoas a fundamentar as suas crenças na razão e apenas na razão”.

[Simon Blackburn – Palestra Voltaire“. Negritos meus. Texto integral, aqui]

[Concorda? Discorda? Diga porquê, na caixa de comentários]

2 thoughts on “ECOS: 9. A fé”

  1. Não sei se a razão não criou tantos ou mais monstros que a superstição. Sobretudo a razão que se pretende absoluta, lógica, acima de tudo e de todos.
    A religião não é um vício. Mas talvez mais, expressão do que há de mais profundo e complexo no ser humano: a sua predisposição para o sonho, a aventura, a fé. A fé que temos, por exemplo, que a amada nos continua a amar no fim do dia, ou no dia seguinte; na amizade do amigo apesar da ausência; a fé de que seremos capazes; a fé de que a vida vale a pena, apesar dos desgostos, etc, etc…
    A razão, companheira da fé, seria a melhor arma contra o fanatismo de qualquer cor…

  2. A fé é o que é. mas fundamentalmente é um sentimento impossível de alcançar pela razão e de por ela ser apreendido.
    muitos senhores e senhoras que falam da fé para a menosprezar e considerar a “mãe de todos os males”, deveriam fazer o mesmo exercício para a deusa razão, com a qual ou sem a qual, se destroem povos, civilizações, indivíduos, desde o primeiro dia da humanidade até aos dias de… amanhã.
    só um ignorante pode considerar a fé inimiga da educação e da cultura, sabendo-se que uma e outra lhe devem o seu esplendor. estes leitores de filosofia que se auto-intitulam de filósofos têm vistas muito estreitas para a grandeza do pensamento filosófico.
    A bondade ou a maldade da fé ou da razão, não está naquilo que se pensa ou se quer que elas sejam, mas sim no uso que cada um faz delas.
    S M

Leave a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Scroll to Top