- Num dos poucos truques de “magia” que executei com sucesso, uma das mãos, em movimento constante, distrai a atenção dos assistentes para a zona do cotovelo do braço contrário, enquanto a outra, discretamente, faz desaparecer uma moeda enfiando-a dentro da camisa, na zona do pescoço. O bê-a-bá do ilusionismo adverte que esse é princípio essencial para o êxito da magia: se o truque é feito no sítio A, a atenção deve ser desviada para o sítio B.
- Esse é também um dos truques do discurso falacioso. Com uma designação genérica, chamemos-lhe manobras de diversão. Ensina a Enciclopédia de termos lógico-filosóficos, da Gradiva, que esta falácia acontece “quando quem argumenta procura distrair a atenção de quem o ouve mudando completamente de assunto e acabando por ou retirar uma conclusão acerca deste outro assunto como se fosse a continuação do anterior, ou assumir simplesmente que alguma conclusão foi tirada”. As manobras de diversão destes tipos têm esta nuance: apresentam as razões que sabem que o público aceita para justificar as conclusões que o público aceita, sendo que a interpretação dessas conclusões as transforma em outras, quando “aplicadas na prática”. Recordemos um exemplo do passado recente: os governos de José Sócrates invocavam o direito – o direito, repito, e não o dever – dos professores a serem avaliados para justificar um modelo de avaliação contra o qual estava a esmagadora maioria dos professores. Só um dever – não, um direito – pode obrigar alguém a algo de que discorde.
- Para escapar ao ilusionismo das manobras de diversão, a questão é nunca descurar de saber onde está a questão. A atividade da equipa do atual ministério da educação é um bom exercício, pela frequência com que usa a autonomia das escolas como manobra de diversão. Recorrentemente, desde o início da sua atividade: quando, após a posse do ministro, se procurava justificar o seu silêncio ensurdecedor (falta de ideias?), a resposta (dos seus apoiantes e dele próprio) era: é preciso descentralizar, dando a iniciativa às escolas.
- As notícias mais recentes garantem que o Governo aprovou alterações ao regime de gestão das escolas, no sentido de lhes dar maior autonomia e aprovará outros documentos no mesmo sentido; o mesmo propósito presidiria à reforma curricular: as escolas são autónomas na elaboração de horários e organização dos tempos letivos, bem como na gestão dos tempos de trabalho dos professores. Onde está, verdadeiramente, a questão, neste caso? nas contas (e no que se poupa).
Para ver o truque, sirva o exemplo da disciplina de Filosofia: fica ao critério de cada escola distribuir… os 150 minutos estabelecidos pelo ministério (ainda que eventualmente mínimos, são possíveis), em lugar dos atuais 180; ou seja, três “tempos” de 50 minutos, em vez dos atuais quatro – uma poupança de um “tempo” por horário e por turma.
- Plagiando Simon Blackburn – a questão é o que está em questão, e nada mais.
Manobras de diversão expressas em truques para todos os gostos. O problema é que contariamente aos truques do Luis de Matos, os de Nuno Crato produzirão efeitos reais devastadores!!
E vê a reacção da nossa APF a este truque, um mísero ofício a pedir esclarecimento…acho que é desta que vou deixar de pagar as quotas…
A APF?
Desde que se promovam “certos “manuais” (manual) e sebenta para adestrar os alunos para um número de circo (exame)… tudo bem!