Khalil Gibran

Amanhã, 6 de Janeiro, é o aniversário do poeta e pintor libanês Khalil Gibran.

Nascido em 1883, na pitoresca aldeia de Becharre, e falecido em 1931, há quem o considere “o mais importante poeta do Líbano e um dos pensadores contemporâneos mais notáveis” (introdução à edição da Libro-Mex Editores do seu livro “el Loco“). Aos onze anos, emigrou com a família para os Estados Unidos, tendo vivido em Boston, num bairro marginal. Depois de regressar ao Líbano, em 1897, percorre a Grécia, a Itália e a Espanha, fixando-se em Paris, onde estudou arte. A partir de 1910, viveu em Nova Iorque, onde escreve livros e expõe quadros, sem jamais deixar de se preocupar com o destino do seu país natal.

Algumas das sua obras: O Louco [Coimbra: A Mar Arte, 1997], O Profeta [Coimbra: Alma Azul, 1999] (considerada a sua obra-prima), O Vagabundo [Braga: Editorial A.O., 1989], Espírito Rebelde [Mem Martins : Livros de Vida, 2003] (queimado inquisitorialmente na preça de Beirute),…

(encontra na Wook uma vasta lista…]

Transcrevo, ao acaso, duas das parábolas que integram O Louco [Coimbra: A Mar Arte, 1997]:

O CÃO SÁBIO

Certo dia um cão sábio passou por um grupo de gatos. E vendo que os gatos pareciam preocupados falando entre si sem dar pela sua presença, decidiu parar para escutar o que diziam.

Levantou-se um gato, o maior, grave e sisudo, que dirigindo-se aos outros disse: Meus irmãos, rezai, porque se rezardes muitas vezes por certo choverão ratazanas.

Ao escutar estas palavras o cão riu-se com os seus botões e seguiu caminho dizendo: Gatos cegos e insensatos. Por acaso não está escrito, e não é dado adquirido que o que chove quando rezamos não são ratazanas, mas ossos?

 

OS DOIS EREMITAS

Numa montanha viviam dois eremitas que adoravam a Deus e se amavam mutuamente.

Os eremitas possuíam uma bilha de barro, a sua única riqueza.

Certo dia um mau espírito tentou o eremita mais velho que foi ter com o mais novo para lhe dizer: Há muito que vivemos juntos. O melhor é separarmo-nos. Vamos repartir o que temos.

A tristeza entrou no coração do mais novo que disse: Fico triste por saber que vais deixar-me mas se é isso que queres, assim seja. Foi buscar a bilha de barro, deu-a ao seu companheiro e disse: Não a podemos repartir. Fica tu com ela.

O eremita mais velho não aceitou: Não quero a tua caridade. Ficarei apenas com o que me pertence. A bilha deve ser repartida.
O outro respondeu: Se a partimos para que te servirá a ti, e para que me servirá a mim?

Se concordares, tiraremos à sorte.

O eremita velho insistiu: Ficarei apenas com o que me couber por justiça, e não quero confiar à sorte nem a justiça nem os meus direitos. Temos que dividir a bilha.

O eremita mais novo não teve mais remédio que dizer: faça-se o que desejas, e já que não a queres, vamos quebrá-la e reparti-la.

Foi então que o mais velho gritou alterado: Maldito! Cobarde! Não és então capaz de lutar?

4 thoughts on “Khalil Gibran”

  1. Principalmente para mis amig@s de “Libros grátis”, la versión en castellano:

    EL PERRO SABIO
    Cierto día, pasó junto a un grupo de gatos un perro sabio.

    Y notando el perro que los gatos estaban tan absortos, hablando entre sí, y que no notaban su presencia, se detuvo a oír lo que éstos decían.

    Se paró entonces un gran gato serio y prudente, miró a sus camaradas, y les dijo: “Hermanos, rezad; y cuando hayáis rezado una y otra vez, y vuelto a rezar, sin lugar a dudas lloverán ratones del cielo.”

    Al escuchar esto, el perro sonrió para sus adentros, y se alejó de los gatos, exclamando: “¡Ciegos y necios felinos! ¿No está en las escrituras, y no lo he sabido siempre, y mis antepasados antes que yo, que lo que en realidad llueve cuando elevamos al Creador rezos y súplicas son huesos, y no ratones?”


  2. LOS DOS ERMITAÑOS

    En una distante montaña habitaban dos ermitaños que rendían culto al Creador y se apreciaban uno al otro.

    Ahora bien, estos dos anacoretas tenían un plato de barro, el cual constituía su única posesión.

    Cierto día, un espíritu maligno penetró en el corazón del ermitaño anciano, el cual fue con el más joven, y le dijo: “Hace ya excesivo tiempo que estamos viviendo juntos. Creo ha llegado el momento de separarnos. Por lo tanto, dividamos nuestras pertenencias.”

    Al escuchar esto, el anacoreta más joven se afligió, y dijo: “Hermano mío, me apena pensar que decidas dejarme. Pero si es preciso que partas, que así sea.” Y fue por el plato de barro, y se lo dio a su compañero, diciéndole: “Es imposible repartirlo, hermano; que sea para ti.”

    El anciano anacoreta replicó: “No acepto tu limosna. No aceptaré sino lo que me corresponde. Debemos partirlo.”

    Y el anacoreta joven argumentó: “Si rompemos el plato, ¿de qué nos servirá a ti o a mí? Si quieres, propongo que lo echemos a la suerte.”

    Pero el anacoreta más viejo insistió en su afán: “Sólo aceptaré lo que en justicia me corresponde, y no fiaré la justicia de mi opción a la suerte. Debe partirse el plato.”

    El anacoreta más joven, observando que no valían sus razones, dijo: “De acuerdo; si tal es tu gusto, y si no quieres aceptar el plato, rompámoslo y repartámoslo.”

    Y entonces la cara del anacoreta viejo se alteró por la ira, y gritó: “¡Ah, detestable miedoso! no te atreves a pelear, ¿eh?”

  3. Não que faça grande diferença a quem lê isto, mas o livro “O Profeta” é um texto a que recorro com frequência.
    Do que se trata ali são de ideias e sentimentos expressos há muito, mas que nos tocam com o sentido daquilo que não tem tempo.
    Porque se calhar há coisas que não mudam. Ou se calhar precisamos de olhar para elas de vez em quando para não nos perdermos.

    Obrigada pela tua lembrança sobre este pensador.

    teresa cordeiro

    P.S. Vê lá se isto não faz sentido? “A menudo decís: Yo daría, pero a quien lo merezca.
    Los árboles de vuestro huerto no hablan así, ni los rebaños de vuestros campos.
    Dan para poder vivir, porque guardar es morir”.
    (“O Profeta”)

    1. …na versão portuguesa:

      “Às vezes, podeis pensar: Gostava de dar só aos que merecem. Olhai as árvores dos vossos pomares e os rebanhos à vossa guarda. Dão para poder viver, porque guardar é morrer”.

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