A filosofia é diferente da ciência e da matemática. Ao contrário da ciência, não assenta em experimentações nem na observação, mas apenas no pensamento. E, ao contrário da matemática, não tem métodos formais de prova. A filosofia faz-se colocando questões, argumentando, ensaiando ideias e pensando em argumentos possíveis contra elas e procurando saber como funcionam realmente os nossos conceitos.
A preocupação fundamental da filosofia consiste em questionarmos e compreendermos ideias muito comuns que usamos todos os dias sem pensarmos nelas. Um historiador pode perguntar o que aconteceu em determinado momento do passado, mas um filósofo perguntará: «O que é o tempo?». Um matemático pode investigar as relações entre os números, mas um filósofo perguntará: «O que é um número?». Um físico perguntará de que são constituídos os átomos ou o que explica a gravidade, mas um filósofo irá perguntar como podemos saber que existe qualquer coisa fora das nossas mentes. Um psicólogo pode investigar como é que as crianças aprendem uma linguagem, mas um filósofo perguntará: «Que faz uma palavra significar qualquer coisa?» Qualquer pessoa pode perguntar se entrar num cinema sem pagar está errado, mas um filósofo perguntará: «O que torna uma ação certa ou errada?»
Não poderíamos viver sem tomarmos como garantidas as ideias de tempo, número, conhecimento, linguagem, certo e errado, a maior parte do tempo, mas em filosofia investigamos essas mesmas coisas. O objetivo é levar o conhecimento do mundo e de nós um pouco mais longe. É óbvio que não é fácil. Quanto mais básicas são as ideias que tentamos investigar, menos instrumentos temos para nos ajudarem. Não há muitas coisas que possamos assumir como verdadeiras ou tomar como garantidas. Por isso, a filosofia é uma atividade de certa forma vertiginosa, e poucos dos seus resultados ficam por desafiar por muito tempo.
(Thomas NAGEL. Que quer dizer tudo isto? uma iniciação à Filosofia. Lisboa: Gradiva, 1997, p. 8-9)
Nota d’O meu baú:
A leitura da obra de que é extraído o texto é uma boa introdução à filosofia. No livro estudam-se nove problemas filosóficos (o que, além do mais, pode dar uma ideia do que sejam os problemas filosóficos):
- Como sabemos seja o que for? [o conhecimento do mundo para além das nossas mentes]
- Outras mentes [o conhecimento de outras mentes para além das nossas]
- O problema mente-corpo [a relação entre a mente e o cérebro]
- O significado das palavras [como é possível a linguagem]
- Livre arbítrio [se temos livre arbítrio]
- Certo e errado [as bases da moral]
- Justiça [que desigualdades são injustas]
- Morte [a natureza da morte]
- O sentido da vida [se a vida faz sentido ou é absurda]
Na página Ensino da Filosofia/10º ano, encontra ligações para outros textos (e ideias) sobre o que é a filosofia.