João Pinto, ex-jogador do Futebol Clube do Porto, há anos, a um jornalista que lhe pedia a antevisão de um jogo respondeu “prognósticos, só no fim do jogo“. Esta frase, que entretanto saltou para a boca dos portugueses, resume muito bem o que costuma chamar-se viés de retrospetiva.
O que é o viés de retrospetiva?
Diz o blog do Horn que o viés de retrospetiva, também conhecido como “é fácil prever o passado”, é aquele que nos faz acreditar que eventos ocorridos no passado eram facilmente previsíveis e dá como exemplo a crise financeira de 2008: “hoje os economistas explicam com extrema naturalidade a evolução dos financiamentos em cascata do mercado imobiliário norte americano, para mostrar que a crise era inevitável. Porém, pouquíssimos foram aqueles que conseguiram enxergar esta realidade antes de ela estourar”.
Um sintoma comum desse viés é uma interrogação/exclamação com que se comenta algum acontecimento: “eu não te disse?!” Em artigo de opinião no último número de 2017 do jornal espanhol El Mundo, Gonzalo Suárez declara expressamente que não tem a mínima ideia do que acontecerá em 2018 — e apoia a recusa de antecipar as surpresas do ano novo na ideia de evitar a síndrome do “ya-lo-decía-yo” (“eu não te disse?!”). Segundo esse mesmo texto,
O viés de retrospetiva ficou demonstrado, a primeira vez, em 1972. Aproveitando a visita à China do presidente Nixon, o investigador Baruch Fischhoff realizou uma sondagem com 15 possíveis resultados. Terminada a viagem, pediu às mesmas pessoas que recordassem quais as opções que tinham selecionado. Já estão a adivinhar os resultados: todos sobre-estimaram aquelas que ocorreram… e ignoraram os seus erros.
O autor escreve que o viés de retrospetiva é uma falácia que se aplica a todos os aspetos da vida. Mas, talvez por considerar que o futebol é o “setor onde o viés de retrospetiva é mais patente”, dá o exemplo de Zidane, treinador do Real Madrid:
Zidane acertou ao prever que iria ser crucificado pelo alinhamento da equipa no Clássico [no Bernabéu, onde o Barcelona derrotou o Real Madrid] — tal como teria sido levado num andor, se a sua equipa tivesse vencido o jogo.