A instalação doméstica da alta fidelidade

Alta fidelidade

Esta Iniciação à alta fidelidade de Peter Turner [Editorial Presença] introduziu-me na área. Comprei a obra em 1981, pelo que, como é de supor, algumas das recomendações e sugestões estarão fora do prazo de validade (por exemplo, o tradicional som estereofónico, que é a referência do livro, é cada vez menos frequente). Mesmo assim, não resisto a transcrever algumas notas sobre a instalação doméstica da alta fidelidade: ao tema é dedicado um capítulo (p. 111-119), com grande destaque para a colocação do gira-discos; ainda que seja uma peça quase em desuso, manterei algumas sugestões a esse propósito.

[Adapte as indicações ao seu caso. Os negritos são meus].

Depois de muitos anos como dedicado amador de Alta Fidelidade, sala onde o Autor entre pela primeira vez é sempre olhada em termos de reprodução da música. Podendo dar-se o caso de o Leitor não organizar a sua sala à volta do conjunto de Alta Fidelidade, admitamos isso, pelo menos, como ideal.

Os altifalantes devem apontar para a maior dimensão da sala, porque a frequência mais baixa que pode ser produzida na sala é grandemente determinada pelo comprimento que corresponde a metade do comprimento de onda do som. Isso significa, em termos correntes, colocar os altifalantes nos cantos da sala. É preferível pôr os altifalantes de frente para quem ouve, de modo a obter uma perspectiva. Assim, onde se senta o Leitor usualmente nessa sala? Pense-se nisso em relação à posição dos altifalantes, lembrando-nos de que a família também gostará de ouvir. É por vezes necessário fazer-se um compromisso, e podemos ser limitados por factores como sentarmo-nos próximo da lareira, ou termos aquecedor central, e podermos estar sentados em qualquer ponto da sala.

Os altifalantes devem de preferência estar um pouco virados um para o outro: não só tal posição permite utilizar a maior dimensão mas alarga igualmente a área na qual se pode ouvir melhor a esterofonia. A antiga objecção de que só existe um «lugar estéreo» em cada sala perdeu o sentido. É verdade que a melhor posição é a que se situa imediatamente no eixo dos dois altifalantes, mas como mostram os esquemas, a área de audição alarga-se à medida que os altifalantes se colocam um pouco virados um para o outro. Podem pôr-se os altifalantes ao lado um do outro. O ensaio aqui é o melhor guia. Experimente-se virar um pouco os altifalantes até se alcançar a melhor posição na sala.

Como colocar os altifalantes

[clicar nas fotos, para ver melhor]

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Não há necessidade de pôr os altifalantes no chão. Muitos possuem as unidades dos graves viradas para a base das caixas, o que pode originar reflexões do som provenientes do chão, que abafam os graves e tendem a confundi-los. Os altifalantes podem assentar sobre suportes próprios — e alguns fabricantes fornecem-nos. Se os altifalantes forem pequenos é preciso pô-los mais alto. Por tal motivo são frequentemente designados por altifalantes de «prateleira», e adaptam-se muito bem às prateleiras. Tente-se arrumar as coisas de modo que os altifalantes de agudos (os «tweeters», em contraposição aos altifalantes dos graves, os «woofers») estejam ao nível dos ouvidos, sem que se interponha qualquer móvel. A razão consiste em que as frequências mais elevadas são muito direccionais, e desempenham pequeno papel na restituição da imagem estereofónica.

O giradiscos e o amplificador (com qualquer equipamento associado) deveria situar-se de modo a poder ser manipulado do lugar preferido. Isto torna o ajuste do volume e dos controlos de tonalidade mais fácil de ser apreciado, além de evitar ter de se andar de um lado para outro sempre que se muda de disco.

O equipamento pode ser colocado numa prateleira ou sobre uma mesa, ou pode ter o seu próprio móvel. Há firmas especializadas que fazem caixas de diferentes tipos e estilos, que se adaptam a qualquer decoração, desde a ultra-moderna à mais antiga. Neste ponto o Leitor — e a respectiva consorte — podem dar rédea solta à imaginação e gosto. Seja como for que se arrumem as coisas, procure-se que o giradiscos fique devidamente protegido contra o pó, quando não estiver a ser utilizado. […].

Em regra, o amplificador deve encontrar-se próximo do giradiscos, para que seja o mais curto possível o fio condutor entre si. O comprimento da ordem de 1 m estará certo; devem evitar-se comprimentos longos, pois afectarão a adaptação de impedâncias, e podem causar zumbido. Uma grande vantagem do móvel é a de que os fios condutores estão todos dentro dele; mas em qualquer caso podem ser deslocados e fixados, de modo a não serem vistos.

Uma coisa é tecnicamente essencial: o giradiscos deve estar perfeitamente nivelado. Alguns modelos incorporam um nível de bolha para o efeito. Se tal não existir, pode utilizar-se um pequeno nível de carpinteiro, e o conjunto será ajustado até que a bolha não se mova quando o giradiscos funcionar. […]

De que é feito o soalho da casa onde mora o Leitor? A maior parte das habitações modernas possuem uma camada de cimento sobre a qual estão colados ladrilhos ou tacos de madeira; mas se o soalho é de tipo antigo, com tábuas sobre traves, existe o perigo de vibração dos passos, ou do tráfego, a qual pode ser transmitida ao fonocaptor e causará perturbação — podendo até fazer a ponta de leitura saltar dos sulcos. Em tais casos, uma prateleira montada na parede é preferível a um móvel; mas, por vezes, as molas da montagem do giradiscos são suficientes. Existem diversas unidades muito versáteis de montagem em prateleiras, com ajustes de nivelamento fáceis de efectuar. Dê-se uma olhadela ao material exposto num bom estabelecimento da especialidade. […]

Acústica da sala

Todas as salas têm o seu som próprio. Todos conhecemos a intensa reverberação dos grandes edifícios: um estalar de mãos faz-se ouvir à volta. O intervalo em que o fenómeno ocorre pode ser medido, e é designado por «tempo de reverberação» da sala. A sala onde o Leitor tem o conjunto de Alta Fidelidade tem também um tempo de reverberação, ainda que mais curto. Todavia, uma sala moderna pode ter muita vida, e se se tiverem alguns móveis de madeira e alcatifas pode achar-se o som com pouca reflexão, abafado. Tente-se então quebrar o espaço com mobiliário. Em casos extremos haverá que colocar painéis acústicos no tecto. Pode notar-se a diferença quando, durante a noite, se descem os cortinados: os vidros não permitem uma boa reprodução sonora. Tais factores poderão influenciar o Leitor na escolha dos-altifalantes, já que o que teve bom som na sala de demonstrações poderá não o ter em casa. Novamente aqui a realização de ensaios com os altifalantes colocados no local de audição será um bom auxiliar de decisão.

Falámos atrás de frequências de ressonância. As salas também as têm, apesar de pouco se poder fazer contra isso. Muitas salas possuem um «canto de rumor» em que qualquer zumbido ou rumor se torna mais acentuado do que em outro ponto da sala. Móveis com vidros na frente, e ornatos, podem igualmente ter ressonância, produzindo ruídos perturbadores, que não deverão tirar qualidade ao equipamento. Uma simples re-arrumação será o remédio, ou colocação adequada das pratas, ou placas de feltro. Apesar do que alguns anúncios sugerem, não é provável que se quebrem os vidros!

Dentro de certos limites, o comprimento dos fios condutores que ligam os altifalantes aos amplificadores não tem importância especial, mas o fio deverá ser de boa qualidade. Pode passar por baixo dos tapetes, ou à volta das paredes, e fixar-se a estas com braçadeiras, pregos de cor especiais, semi-circulares na extremidade oposta à das pontas, de modo a prenderem o fio, e não a cortá-lo e pô-lo em curto-circuito.

Pôr os altifalantes em fase

Se aplicarmos uma pequena pilha de lanterna aos terminais de um altifalante, o cone mover-se-á. O terminal em que o polo positivo da pilha produz um movimento do cone para fora é o «positivo», e correntemente tem uma marca vermelha. Ambos os altifalantes têm de estar ligados no mesmo sentido: se assim não for, ficarão «fora de fase», e suprimem-se mutuamente, em especial nas frequências mais baixas. Os cones, como vimos, irradiam o som de ambas as superfícies. Vejamos o que acontece se se aplicar um som a dois altifalantes que não estejam «em fase»: um irradia o som com o movimento do cone para a frente, enquanto o outro o faz com o movimento para trás. Como os altifalantes estão montados numa caixa, em que uma das finalidades é amortecer as radiações da face posterior do cone, o efeito produzido pelo facto de estarem fora de fase resulta na respectiva supressão, e perda de eficiência. O fenómeno verifica-se em especial no extremo grave, e devemos evitá-lo. Daqui se conclui a importância de pôr os altifalantes em fase correcta. Todos os fabricantes de altifalantes garantem que as suas unidades estão em fase correcta, incluindo os terminais de contacto, pelo que não há possibilidade de erro na montagem dos altifalantes; mas as ligações entre os altifalantes e os amplificadores são efectuadas por quem instala o equipamento, e é preciso que as faça correctamente.

Com os altifalantes montados em caixas acústicas não pode fazer-se o teste da pilha; mas os terminais têm a marca colorida da norma. Teremos o cuidado de verificar que os terminais positivo e negativo sejam ligados aos terminais correspondentes do amplificador, que estão igualmente marcados. Para o efeito, há necessidade de empregar fio condutor com marca de cor, que o fornecedor do material de Alta Fidelidade certamente tem à venda, e que permite identificar o condutor ao longo de todo o seu comprimento.

No caso de se ter qualquer dúvida, coloquem-se os altifalantes muito perto um do outro e ouça-se o extremo grave. A seguir, invertam-se apenas as ligações de um altifalante. Se houver perda apreciável na resposta dos graves, os altifalantes estão fora de fase: adopte-se a ligação que der o melhor resultado, e assinalem-se os fios com fita do tipo Dymo ou outra, de modo a estar-se informado da próxima vez. Contudo, o fio de dois condutores com marca colorida em um deles, garante não só pôr os altifalantes em fase correcta, como constitui o tipo com a secção apropriada para o efeito.

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