KANT, Immanuel

Kant é um filósofo alemão (1724-1804).

Nascido no seio de uma família de artesãos com dificuldades económicas, viveu e trabalhou toda a sua vida no cosmopolita porto báltico de Konigsberg, na altura parte da Prússia, na atualidade, Kaliningrado. Embora nunca tenha saído da sua região natal, foi um filósofo internacionalmente famoso ainda em vida.

Kant estudou Filosofia, Física e Matemáticas na Universidade de Konigsberg. Depois de acabar a universidade, ensinou na mesma instituição até que, em 1792, Frederico Guilherme II o proibiu de ensinar devido às suas ideias pouco ortodoxas. Regressou à docência cinco anos mais tarde, após a morte do rei.

Ainda que Kant publicasse ao longo de toda a sua carreira, a sua obra está marcada por três grandes críticas: Crítica da razão pura (1781), conhecida como a primeira CríticaCrítica da razão prática (1788), conhecida como a segunda Crítica;  e Crítica do Juízo (1790), conhecida como a terceira Crítica. Embora menos célebres, há outras obras igualmente importantes, designadamente, Fundamentos Metafísicos da Ciência da Natureza (1786), sobre o movimento, a matéria e a massa e uma espécie de teoria de campo; e Metafísica dos costumes (1796-1797).

Apesar de ter sido um anfitrião afável, alegre e aficionado da arte da conversação, de possuir uma personalidade sociável e inteligente, nunca se chegou a casar. Morreu aos 80 anos.

[Texto construído a partir de VA. O livro da filosofia. Queluz de Baixo: Marcador, 2014, p. 171]

Kant

A teoria de Kant sobre o conhecimento

||| Segundo Kant

“o que chamamos conhecimento é uma combinação do que a realidade nos traz com as formas da nossa sensibilidade e as categorias do nosso entendimento. Não podemos captar as coisas em si mesmas mas apenas como as descobrimos através dos nossos sentidos e da inteligência que ordena os dados oferecidos por eles. Isto significa que não conhecemos a realidade pura mas apenas como é o real para nós. O nosso conhecimento é verdadeiro mas não chega senão até onde lhe permitem as nossas faculdades. Daquilo do qual não recebemos a informação suficiente através dos sentidos — que são os que se encarregam de trazer a matéria-prima do nosso conhecimento — não podemos saber absolutamente nada, e quando a razão especula no vazio sobre absolutos como Deus, a alma, o Universo, etc., confunde-se em contradições irresolúveis.

O pensamento é abstrato, isto é, procede baseando-se em sínteses sucessivas a partir dos nossos dados sensoriais. Sintetizamos todas as cidades que conhecemos para obter o conceito de ‘cidade’ ou a partir das mil formas imagináveis de sofrimento chegamos a obter a noção de ‘dor’, reunindo os traços intelectualmente relevantes do diverso. À partida, pensar consiste em voltar a descer da síntese mais longínqua aos dados particulares concretos até aos casos individuais e vice-versa sem perder nunca o contacto com o experimentado nem nos limitarmos apenas à esmagadora dispersão das suas circunstâncias particulares.”

(Fernando Savater. As Perguntas da Vida. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1999 , p. 58-59).

Idealismo transcendental

||| O texto Kant: apriorismo e criticismo situa o sistema filosófico de Kant entre o empirismo e o racionalismo. Os racionalistas defendem que é o uso da razão e não a experiência que leva ao conhecimento dos objetos do mundo; os empiristas pensam que o conhecimento vem da experiência que temos dos objetos do mundo, e não da razão; a teoria kantiana do idealismo transcendental defende que tanto a razão como a experiência são necessárias para se compreender o mundo.

A ética de Kant

||| O texto A questão da felicidade: proposta de debate tem uma nota sobre a conceção kantiana de felicidade, contraposta à conceção de Aristóteles. Para o filósofo alemão, a felicidade é o resultado (e não o motivo) da ação moral: uma ação tem valor moral quando é realizada pelo puro respeito pelo dever.

||| A ética kantiana é totalmente formal: o bem e o mal são determinados pela razão e não pela inclinação natural. Mas, a vontade humana, porque é imperfeita, pode não obedecer, necessária e imediatamente, à lei da razão; por isso se requer uma obrigação incondicional formulada sob a forma de um imperativo categórico. É categórico porque é absoluto e incondicional, aplica-se a todos os serres racionais, sempre e em todas as circunstâncias.

||| ||| O texto a bizarria filosófica para totós apresenta um livro muito interessante para uma iniciação à filosofia: Não Descartes Estas Ideias. São analisadas mais de 40 ideias filosóficas. O capítulo 31 é dedicado à ética kantiana — ideias principais: os princípios da moralidade devem buscar-se na razão; o único bem incondicional é a boa vontade, aquela que age por dever e não apenas de acordo com o dever; o dever categórico e o imperativo categórico – formulações.

Imperativo hipotético e imperativo categórico

||| A Fundamentação da metafísica dos costumes (1785) e A religião nos limites da simples razão (1793) são duas obras de Kant mais acessíveis. Na primeira, o autor discute cinco fórmulas do imperativo categórico. Uma dessas versões diz: Age apenas segundo uma máxima tal que possas querer ao mesmo tempo que se torne uma lei universal. Outra versão: age de tal maneira que trates a humanidade, tanto na tua pessoa como na dos outros, sempre e simultaneamente como um fim e não apenas como um meio.

||| Vamos supor, como exemplo, que estou em apuros e penso em pedir dinheiro emprestado, mesmo sabendo que o não poderei pagar. A máxima da minha ação, neste caso, seria: quando estiver em apuros por falta de dinheiro, pedi-lo-ei emprestado, prometendo pagar o empréstimo, mesmo sabendo que isso nunca acontecerá. Que sucederia se esta máxima se convertesse em lei universal? Se isso acontecesse, as promessas deixariam de ter credibilidade e seria impossível obter os fins que se pretenderiam com elas. Portanto, não posso querer que esta máxima se converta em lei universal.

||| O imperativo categórico distingue-se de um imperativo hipotético porque (ao contrário do categórico, que é incondicional) o segundo é uma ordem que está dependente de uma condição que normalmente é o fim que se pretende atingir. Por exemplo, “se não quiseres perder os teus clientes, sê honesto com eles”: trata-se, aqui, de escolher os meios adequados (ser honesto) para atingir um fim (não perder os clientes); se este fim deixar de interessar, a ordem também deixará de ter validade. Os imperativos hipotéticos não têm caráter moral: há coisas que é conveniente fazer porque estão em jogo os nossos interesses e há coisas que devemos fazer porque decorrem da nossa condição humana — é para este segundo grupo que aponta o imperativo categórico.

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