Abriu, ontem, a Guimarães Capital Europeia da Cultura 2012. O espetáculo da cerimónia de abertura contou com momentos musicais de Rão Kyao, Cristina Branco… e Chico César.
Parece-me que Chico César não tem, junto dos portugueses, a divulgação que merece. Deixo alguns exemplos da sua música, para motivar a pesquisa de outros.
Mama África é uma das suas canções emblemáticas:
Uma das características que aprecio em Chico César é a brincadeira que faz com as palavras
[um jogo de palavras presente no próprio nome da banda que fundou: Cuscuz Clã, satirizando a KU KLUX KLAN. Ou na canção Mandela: parece ser uma “homenagem” ao dirigente sul-africano, mas na realidade fala duma baiana que… lhe foge; em consequência ele vai “reclamar pro bispo de tu” — uma referência ao bispo Desmond Tutu. O refrão é “mand’ela vir / mand’ela aqui / mand’ela cá / mand’ela mand’ela / mand’ela mand’ela“],
com momentos de verdadeiro encanto linguístico. Dou como exemplo Perto demais de Deus:
Tem gente perto demais de deus
Tem gente que não deixa deus sozinho
E diz deus ilumine seu caminho
E guarda deus na cristaleira
Cristo perto dos cristais
Cristo assim perto demais
Cristo já é um de nós
Carne e osso pão e vinho
Tem gente que não deixa deus em paz
Tem gente incapaz de viver sem deus
E o trata como um funcionário seu
Deus me livre, deus me guarde, deus me faça a feira
Cristo dentro da carteira
Dez por cento rei dos reis
Cristo um conto de réis
O garçom não a videira
Essa gente é o diabo e faz da vida de deus um inferno
Mais um exemplo: uma composição… simples — Deus me proteja de mim:
No concerto de Guimarães, Chico César interpretou Duas Margens:
Quando o tempo me cobrir os céus / Com a anágua suja da tua espera
E teus lábios forem duas margens / Um gritando calmaria, outro clamando tempestade
Eu voltarei, de corpo e barco voltarei / E por ti seguirei minha viagem
Navegarei entre teus braços e segredos / Eu serei teu búzio, tu serás o meu degredo
E, porque tenho de terminar, faço-o com Estranho: