CONCERTO: o que é isso?

Cumprem-se hoje 200 anos sobre a estreia de um dos mais famosos concertos da História da música: o Concerto para piano e orquestra n. 5, O Imperador, o último concerto para piano de Beethoven, tocado pela primeira vez em audição pública em Leipzig a 28 de Novembro de 1811.

O que é um concerto? O concerto clássico, tal como o encontramos nesta peça de Beethoven, é uma obra geralmente em três andamentos, em que um instrumento solista (neste caso, o piano) dialoga com a orquestra, criando contrastes de volume e colorido sonoros. António Cartaxo (Ao sabor da música. Lisboa: Caminho, 1996, p. 126) esclarece que temos duas concepções diferentes de escrever concertos para solista e orquestra: aquela em que o desenvolvimento sinfónico assenta na colaboração entre o solista e a orquestra, protagonistas ao mesmo nível, como no primeiro concerto de Brahms, outra em que o realce ia para a virtuosidade do solista que, sendo como era, quase sempre, o autor da obra, fazia com que o virtuosismo fosse criação — Chopin e Liszt no piano, Paganini no violino.

O Imperador respeita a divisão tradicional em três andamentos. O primeiro, um allegro, desenvolve-se num diálogo gigantesco com mais de 600 compassos. Abre-o, com nobreza e força, um acorde da orquestra, sobre o qual o piano tece uma brilhante improvisação:

[Após essa cadência do piano, um] grande preâmbulo orquestral impõe de seguida um carácter heróico. Nas notas desta passagem, Beethoven escreveu:

«Canto de triunfo para o combate! Ataque! Vitória!» (Viena não tinha sido ainda tomada).

Um segundo tema, um pouco misterioso ou inquieto, mistura-se no rico desenvolvimento às variantes idílicas do tema principal.

Adagio un poco mosso (Si Maior). [no vídeo, este 2º andamento inicia-se aos 22’10”] Doçura pacífica de uma meditação ou de um olhar emudecido sob a forma de variações sobre um tema nostálgico. No fim, numa passagem das trompas que assegura a transição, o tema do final isola-se num momento de hesitação fora do tempo, como pronto a saltar.

Rondo: allegro ma non troppo. [o 3º andamento encadeia-se no anterior, aos 30’23”] Encadeado no andamento precedente surge este tema, com uma impetuosidade rítmica irresistível. Dança popular, dança de Méphisto ou de sabbat, acentua a sua energia pela oposição dos ritmos binários na mão direita e dos ternários na esquerda. O desfasamento da acentuação adiantada contribui para a impressão de um fulgurante salto.

O contraste é impressionante entre o sentimento de tranquila grandeza que emana deste concerto e a situação do compositor, perdendo rapidamente o seu ouvido e vivendo o drama do bombardeamento de Viena pelos franceses […]. A tonalidade de Mi b estava por ele associada à magnificência majestosa (3.a Sinfonia), mas recusava categoricamente o subtítulo «O Imperador», que data da época da sua feitura. Ele intitulava-o simplesmente «Grande Concerto». Efectivamente é um grande concerto, e um concerto romântico, cuja influência será profunda nos concertos para piano de Schumann, de Liszt, de Brahms, de Tchaikovsky…

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