Cultura opõe-se a natura ou natureza, isto é, abrange todos aqueles objetos ou operações que a natureza não produz e que lhe são acrescentados pelo espírito. A fala é já condição de cultura. Por ela se comunicam emoções ou conceções mentais. A religião, a arte, o desporto, o luxo, a ciência e a tecnologia são produtos da cultura.
Este é o sentido mais extenso de cultura, que coincide com o de civilização, palavra que se propagou por via francesa. Cultura, essa, difundiu-se por via alemã.
Em sentido mais restrito, entende-se por cultura todo o conjunto de atividades lúdicas ou utilitárias, intelectuais e afetivas que caracterizam especificamente um determinado povo. Fala-se da cultura dos Esquimós ou dos Pigmeus. Assim entendida, a cultura é estudada pela etnologia. É um sentido global de cultura, considerada em relação a um povo.
Pode restringir-se também a palavra quanto aos temas de análise. Nesse caso, consideramos um conjunto de artes lúdicas — especialmente aquelas que os gregos antigos designavam por “as nove musas” (como a poesia, a música, a dança, a mímica, etc.), excluindo a ciência e a tecnologia. Com um significado aproximado usam os Ingleses a palavra folklore, que se divulgou internacionalmente com o significado de poesia popular.
[António José Saraiva. Cultura. Lisboa: Difusão Cultural, 1993, p. 11-12]
||| …transcrição, de acordo com o novo acordo ortográfico, do primeiro capítulo. Além deste (e de uma entrevista conduzida por Leonor Curado Neves, que fecha o opúsculo), há outros doze, que abordam os seguintes temas: Cultura e linguagem; a poesia oral; a escrita; o sagrado; a Torre de Babel; religião e ética; o “homo ludens”; a retórica; a literatura; a ciência antiga e a ciência moderna; como nasceu a moeda; o problema do progresso.