[…] há quem acredite que é evidente que um feto de dez semanas tem mente, e quem pense que é evidente que não. Se não tem mente, então fica aberto o caminho para argumentar que o feto não tem maiores interesses que os que possa ter, digamos, uma perna gangrenada ou um dente cariado: e então poder-se-ia destruir para salvar a vida (ou simplesmente para servir os interesses) da pessoa que tem interesses e da qual forma parte. Se o feto já tem mente, então, decidamos o que decidirmos, temos que considerar os seus interesses em conjunto com os do seu portador temporário. No meio destas duas posições extremas encontra-se o autêntico dilema: o feto desenvolverá, a seguir, a sua própria mente se não for perturbada; assim, a partir de quando é que começamos a contar com os seus futuros interesses?
[Daniel C. Dennett. Tipos de mentes: Hacia una comprensión de la conciencia. Madrid: Debate, 2000, p. 16-17. Tradução e negritos de O meu baú].