ROSA, António Ramos

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A 23 de setembro de 2013, morreu o poeta António Ramos Rosa (nasceu a 17 de outubro de 1924). Sobre ele escreveu Natália Correia [Antologia de poesia portuguesa erótica e satírica. Lisboa: Antígona/frenesi, 3ª ed., 1999, p. 426]:

António Vítor Ramos Rosa nasceu em Faro em 1924. Poeta e ensaísta, vemo-lo, nesta qualidade, na origem e direcção de duas publicações: Arvore e Cadernos do Meio-Dia.

Após uma intensa colaboração em revistas literárias, só em 1958 reuniu algumas das suas poesias no pequeno volume O Grito Claro, seguindo-se-lhe: Viagem Através duma Nebulosa (1960), Voz Inicial (1961), Sobre o Rosto da Terra (1961), Ocupação do Espaço (1963) e Terrear (1964). Publicou ainda o ensaio Poesia, Liberdade Livre (1962) [nota d’O meu baú: encontra aqui uma lista, muito mais extensa, das suas obras].

Ao realismo da primeira fase, sucedeu-se uma determinação lúcida de conquistar um âmbito poético intocado pela multímoda expressão surrealista. Neste sentido, o inventário das mais modernas experiências europeias serve-lhe de matéria laboratorial para a síntese procurada, fazendo prevalecer na sua poesia a disciplina necessária à investigação das formas com um possível prejuízo consequencial da evasão lírica. Inevitavelmente, a sua poesia se converte, não raro, numa arte poética na qual a palavra é surpreendida como substância do poema, facto este que justifica ser ela valorizada na base da tentativa de renovação formal da última poesia.

Na sua perspectiva erótica, a mulher, forma úbere, consubstancia, na dádiva da sua nudez, o revérbero luminoso, projecção do mundo ideal do poeta, que é um mundo claro.

Nessa antologia, Natália Correia inseriu, de Ramos Rosa, um poema inédito, que a seguir se transcreve:

DIA DE VERÃO

Contra a muralha de ar
desfaço os nós da cinza dura
a ânsia larga larga
lucidamente embarco no meu corpo
e no ar
onde mulheres vivas rompem
com o sangue do Verão
rodopiando ancas sonoras
giram na vertigem direitas contra
a força do ar caindo como uma onda
sobre o sexo que respira violentamente
abertas vulvas felizes na febre fresca
corpos de seda e sede
livres em cada poro que o ar e a luz penetram
desfazendo todos os nós no ar
altas frescas fortalezas

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