FOUCAULT, Michel

Michel Foucault

Nascido a 15 de outubro de 1926, Paul Michel Foucalt morreu a 25 de junho de 1984. Morreu de sida, dois anos após a doença conhecer nome. A sua morte foi descrita no livro Ao amigo que não me salvou a vida, do seu companheiro Hervé Guibert, também ele vítima da doença.

Para os seus seguidores, Foucault (que teve uma influência enorme no pensamento francês da segunda metade do século XX) foi tudo: filósofo, historiador, arqueólogo do conhecimento e ativista social. Mas de todas as etiquetas, a de filósofo é a que lhe assenta menos bem; foi um estimulador da reflexão, preocupado com a sociologia, a economia e a literatura; um grande escritor e minucioso analista, não apenas das grandes ideias, mas também dos detalhes significativos. As suas principais influências foram Nietzsche e Heidegger. Do primeiro colheu a ideia de que toda a conduta humana é motivada pelo afã do poder e que os valores tradicionais estão a perder o seu domínio opressivo sobre a sociedade (“Deus morreu”). Do segundo adotou a crítica ao “atual entendimento de ser tecnológico”.  De Nietzsche colheu ainda a ideia da pesquisa genealógica: é preciso encontrar o fio que nos diga de onde vimos, o que somos, em que nos vamos transformando.

FASE ARQUEOLÓGICA — escavar

O pensamento de Foucault teve três fases: ele chamou à primeira “época arqueológica” porque a dedicou a escavar camadas históricas para analisar os discursos sociais que lhe interessavam. Começou a desenvolvê-la em Loucura e Civilização (1960). Segundo Foucault, a civilização ocidental, a partir de um determinado momento, começou a desenvolver políticas de exclusão contra os loucos, os delinquentes e os doentes, e instituições para as levar a cabo: o manicómio, o hospital e a prisão. O importante não eram os indivíduos afetados mas a justificação que da sua exclusão faziam os lúcidos, os honrados e os sãos. Os “normais”.

Isto foi dando lugar a um sistema de controlo social perverso, cada vez mais repressivo, do qual todos somos cúmplices. Até a escola é uma instituição perversa, porque recorre a táticas disciplinares, entre elas o exame. Para Foucault, “o exame combina as técnicas das hierarquias que vigiam e as das sanções que normalizam. Permite qualificar, classificar e punir”. Interessava-lhe a figura do louco e as estratégias sociais destinadas a torná-lo invisível. Segundo ele, o Ocidente, que no passado tinha considerado a loucura quase como uma inspiração divina, reprimiu toda a sua força criativa ao classificá-la como doença. Encerrando e arquivando o louco como um objeto, a racionalidade moderna demonstrou o que era: vontade de domínio.

FASE GENEALÓGICA — desafiar

A segunda fase, a genealógica, decorreu de 1969 até princípios dos anos 80. Nela, escreveu As palavras e as Coisas (1966), uma das suas obras mais importantes, onde cristalizou o seu confronto com a modernidade e a sua rejeição do mito do progresso: a história não persegue um fim, não tem sentido. A da cultura é descontínua e organiza-se em torno ao que Foucault chamava “epistemes”. Cada episteme estrutura as mais diversas áreas do saber de uma época. “Quando digo episteme, digo todas as relações que existiram em determinada época entre os diversos campos da ciência”. A sucessão de epistemes não implica progresso nem tem sentido. Os indivíduos pensam, conhecem e valoram dentro dos esquemas da episteme vigente no tempo em que lhes tocou viver.

Em As palavras e as Coisas descreve três epistemes ocidentais muito claras. Na primeira, que se manteve até ao Renascimento, “as palavras tinham a mesma realidade que aquilo que significavam. “Assim, por exemplo, no campo económico, as coisas que se trocavam deviam ter uma avaliação equivalente. O que se comprava devia valer tanto quanto o ouro ou a prata que se davam em troca. Na segunda episteme, séculos XVIII e XIX, os vínculos de equivalência entre as coisas quebraram-se. Em todos os aspectos económicos, também no da moeda, o valor intrínseco deixou de ser importante e passou a ser apenas representativo. Já a partir do século XIX, começou-se a procurar as estruturas ocultas sob o real: o valor de um bem era medido pelo trabalho necessário para o produzir, não pelo dinheiro.

FASE ÉTICA — libertar-se

A terceira e última fase de Foucault, a ética, começou com a publicação de Vigiar e punir, embora as suas obras mais importantes tenham sido as últimas que escreveu: História da Sexualidade, Volume I: Introdução (1976), O uso dos prazeres (1984 ) e O cuidado de si (1984). Formam parte de uma projetada história da sexualidade em cinco volumes que não chegou a terminar. Os dois últimos publicados surpreenderam pelo seu estilo quase tradicional, o seu material de análise (textos clássicos gregos e latinos) e, especialmente, pelo seu interesse pelo sujeito, um conceito que até então não lhe interessara. Nesta obra, Foucault traçou o modo como as pessoas se foram identificando como seres sexuais nas distintas épocas. E relacionou o conceito sexual que cada um tem de si próprio com a sua vida moral e ética. A sua ideia era demonstrar que no Ocidente se desenvolveu um novo tipo de poder, a que chamou de bio-poder: um complexo sistema de controlo que os conceitos tradicionais de autoridade são incapazes de entender porque, aparentemente, não reprime a vida, antes a realça. Isso levou-o a refletir sobre a ética: “Como posso constituir-me em sujeito ético, em agente moral?” perguntava-se. E encorajou as pessoas a resistir ao que chamava de “mecanismos de confinamento” do estado do bem-estar, a desenvolver uma ética individual em que cada qual conduzisse a sua vida de tal forma que os outros pudessem respeitá-la.

Parece que este Foucault final está em conflito com o do princípio. “Trabalhei tanto, todos estes anos, para dizer sempre o mesmo e não poder mudar?”, defendeu-se.

[texto plagiado do nº 13 da revista Filosofía Hoy]

 

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