Fogo que arde sem se ver

No dia convencionado (em Portugal) para ser o dos namorados, proponho a audição de 3 extratos de ópera, onde o amor é tema dominante.

Aida, ópera de Verdi (1871), narra os amores (secretos) entre o guerreiro Radamés e Aida, uma bela princesa etíope, escrava de Amneris, a filha do faraó do Egito. É famosa a ária Celeste Aida, cantada por Radamés logo no 1º acto, ao pensar na jovem escrava objecto da sua paixão. Termina com uma nota aguda, que deve terminar pianissimo.

Celeste Aida,
forma divina,
Mística grinalda
de luz e flores.
Do meu pensamento
és a Rainha,
Da minha vida
és o esplendor.
O teu belo céu
queria dar-te,
A doce brisa
do teu solo pátrio!
Uma coroa real
colocar-te nos cabelos,
Erguer-te um trono
perto do sol.

De Mozart, As Bodas de Fígaro (1786) apresenta-nos os amores de Fígaro e Susanna, contrariados pela pretensão do Conde de Almaviva de recuperar com Susanna, criada da Condessa, o usufruto do direito de pernada (o direito medieval de os chefes de um clã passarem a primeira noite com qualquer mulher que se casasse dentro da sua propriedade). Cherubino, pajem da doce e melancólica Condessa, adolescente de uma beleza entre o efebo e a donzela, é um apaixonado sonhador: foi despedido por o Conde o ter surpreendido com Barbarina, a filha do jardineiro; manifesta-se apaixonado pela Condessa; enamora-se de todas as mulheres que vê… E canta assim os seus fervores eróticos (a ária Non so più começa, no vídeo seguinte, a 1’54”):

Já não sei o que sou, nem o que faço;
ora me devoram chamas, ora me sinto gelado,
qualquer mulher me faz corar,
qualquer mulher me faz palpitar.
Ouvindo palavras de amor, de alegria,
o meu peito altera-se e perturba-se,
e um desejo que não sei explicar
força-me a falar de amor!
Falo de amor em vigília,
falo de amor nos sonhos,
à água, às sombras, aos montes,
às flores, às ervas, às fontes,
ao eco, ao ar, aos ventos,
que levam para longe
o eco das minhas palavras vãs.
E se não tenho quem me ouça,
falo de amor comigo.

Em A Flauta Mágica (1791), também de Mozart, o príncipe Tamino é convencido a salvar Pamina, raptada pelo feiticeiro Sarastro. Recebe uma flauta mágica que, ao ser tocada, o protegerá de todos os perigos, e parte para a sua missão, com Papageno. Pamina e Tamino apaixonam-se, mas têm de vencer os desafios de iniciação, antes de conseguir concretizar o seu amor.

Quando se encontram, Pamina e Papageno cantam (num conhecido dueto) como a união amorosa faz alcançar a divindade.

PAMINA: Aos homens que sentem amor / Nunca faltará um bom coração.

PAPAGENO: Compartilhar seus doces impulsos / É o primeiro dever das mulheres.

AMBOS: Vamos nos alegrar pelo amor, / É só pelo amor que vivemos.

PAMINA: O amor suaviza todas as penas; / Todas as criaturas os louvam.

PAPAGENO: Ele dá sabor aos dias da nossa vida / E faz andar a roda da natureza.

AMBOS: Seu fim sublime mostra-se bem evidente, / Não há nada mais nobre do que uma mulher e um homem.
O homem e a mulher, a mulher e o homem, / Juntos alcançam a esfera divina.

2 thoughts on “Fogo que arde sem se ver”

  1. Uma seleção verdadeiramente bela! Quando as escolhas são sinónimo de gosto pessoal, tudo se transforma em magníficos momentos de Arte!

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