Agostinho da Silva [3/5]

Educação para Portugal e para os portugueses

Agostinho da Silva foi um crítico feroz do modelo escolar europeu que vigorava entre nós, por considerar que servia apenas para alienar as crianças, crianças estas que colocou no centro da sua preocupação pedagógica que incluía uma íntima ligação entre a escola e a vida, única forma de proporcionar um bom crescimento intelectual e moral àqueles pequenos seres.

Considerou a escola como um instrumento ao serviço da organização futura de Portugal cuja principal tarefa era ajudar a tornar cada criança num Imperador do Espírito Santo. Para tanto, defendeu que, em todos os níveis de ensino, as escolas se organizassem no sentido de poder satisfazer a curiosidade natural de cada um, devendo ser, ao mesmo tempo, científicas, técnicas, artísticas e filosóficas, nelas devendo coabitar em perfeita harmonia a razão e a emoção. Ao Estado apenas competiria intervir na sua organização, sem impor qualquer modelo de ensino.

Dos níveis de ensino anteriores à Universidade considerava necessário que as escolas primárias se deveriam iniciar com os jardins de infância e que se deviam impor como o centro da vida das populações. Quanto ao ensino secundário mais adequado a Portugal, defendeu o seu funcionamento em regime de internato, com a novidade de se estruturar num modelo de aldeias escolares que albergariam os professores e os alunos. Enquanto nível de ensino que acompanhava a passagem da meninice até à juventude, considerou-o o mais importante de todos, propondo um currículo equilibrado entre o ensino e a aprendizagem das ciências e das humanidades, protagonizando, ainda, a extinção das diferenças entre ensino técnico e ensino liceal.

Quanto ao ensino superior e universitário distinguiu o ensino superior técnico do ensino universitário, criticando a universidade portuguesa que se lhe apresentava como uma instituição conservadora e divorciada do povo, sugerindo mesmo algumas propostas de organização curricular para que este nível de ensino pudesse efectivamente servir Portugal e os portugueses. Defendeu que as instituições do ensino superior se encontrassem espalhadas um pouco por todo o território nacional, assentes, também, na total liberdade de ensinar e aprender, em plena continuidade com as escolas dos outros níveis de ensino, concebendo estas escolas como o campo privilegiado de reflexão sobre a identidade nacional, desejando que abrigassem, em simultâneo, os cientistas e os autodidactas, que estivessem bem equipadas a nível de bibliotecas e a nível de laboratórios e que fossem enlaçadas por Centros de Estudos Filosóficos, centros estes que teriam o papel de procurar a unidade da diversidade do pensamento que, em Portugal e sobre Portugal, se fosse produzindo.

Era um crítico da educação de adultos que oficialmente se fazia em Portugal, considerando que a alfabetização não se pode limitar a ensinar a ler, escrever e contar, mas deve acontecer durante toda a vida, para que possa acompanhar as transformações permanentes a que o mundo é sujeito. Tinha, portanto, uma concepção funcional da alfabetização.

Como estruturas essenciais ao aprofundamento e divulgação da cultura portuguesa que se suportava num saber de experiência feito, apoiado na religião do Espírito Santo, Agostinho propôs a criação de os Comuns ou Grupos de Interesse, a abertura nos quatro cantos do mundo de Centros de estudo e reflexão e a criação de uma Universidade da Comunidade de Cultura Portuguesa.

Quanto aos modelos antropológicos de Portugal deu particular ênfase ao jesuíta padre António Vieira, ao rei D. Dinis, ao filósofo de origem portuguesa Espinosa, aos historiadores Alexandre Herculano e Jaime Cortesão, bem como aos poetas e escritores Camões e Fernando Pessoa. No tocante à acção política elogiou Afonso de Albuquerque e Alexandre Gusmão, relevando também o pensamento do seu contemporâneo Adriano Moreira.

[Artur Manso]

[Este é o terceiro texto de uma série de cinco. O anterior: Ideias pedagógicas. O próximo: Ideias filosóficas]


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