Agostinho da Silva [2/5]

Ideias pedagógicas

Quanto a teorias pedagógicas, Agostinho da Silva criticou a sofística, certos aspectos da pedagogia dos jesuítas e a escola mercantilizada e, em sentido inverso, elogiou o modelo socrático-platónico de educação, o humanismo pedagógico e a educação libertária, oscilando o seu pensamento entre uma reforma educativa que fosse de encontro às propostas da Educação Nova, com algumas correcções, e uma educação global pela experiência da vida, em que o saber ler, escrever e contar fossem considerados meros aspectos dessa experiência.

Pese embora tenha pensado a educação pré-primária, a educação básica e a educação secundária, bem como a educação superior e universitária, o essencial a sua meditação diz respeito ao nível superior e universitário.

Relativamente à educação de infância e ao ensino primário, pese embora não se tenha detido na análise das suas práticas pedagógicas e da sua organização, defendeu que se estruturasse no sentido de auxiliar um são crescimento das crianças, apontando, ainda, como obrigação das escolas primárias, numa altura em que o analfabetismo era massificado, ensinar a ler, escrever e contar às pessoas adultas e trabalhadoras, cuidando da sua educação do espírito. Defendeu, também, que as escolas primárias se situassem no campo, fazendo da vida livre o húmus da sua razão de ser, e que os alunos fossem distribuídos pelas turmas de acordo com as idades e respectiva maturação intelectual.

Sobre o ensino superior e universitário, concluímos que teceu duras críticas ao modelo de Universidade vigente, mas soube propôr um modelo que contemplava as condições de acesso, a investigação a realizar, a estrutura e a organização da instituição, relevando, no seu interior, o papel da Filosofia e da Teologia. Concretamente, divulgou o projecto da Universidade de Brasília como aquele que melhor serviria uma universidade que fosse pensada para servir, da melhor forma possível, a comunidade em que se inserisse.

Preocupou-se com a formação dos professores, os quais considerou como os grandes mediadores entre o conhecimento e a ignorância, tendo criticado qualquer formação de professores que relativizasse as qualidades inatas para um bom exercício da profissão docente, tornando os docentes em meros técnicos da educação, avançando como principais características a um bom professor, para além de uma boa preparação técnica e científica, uma elevada capacidade de compreensão, uma cultura alargada, uma conduta ética e moral irrepreensíveis.

No concernente à educação extra-escolar Agostinho apresentou-nos o escutismo como uma forma de vida comunitária e fraterna, em que a vida em grupo elimina a ideia da concorrência, substituindo-a pela colaboração e o serviço aos outros. Defendeu uma educação de adultos em moldes diferentes dos habituais, pois relativizou a preocupação manifestada pelo ensino da leitura, escrita e cálculo, centrando este tipo de educação – a de adultos – na satisfação da curiosidade que cada um mostra ante qualquer coisa que desperta o seu interesse, tendo entendido a educação permanente como a liberdade absoluta de cada um aceder, em qualquer fase da sua vida, à informação que pretender, às escolas de todos os graus de ensino e ao permanente exercício da crítica e à indagação religiosa e metafísica.

O seu pensamento pedagógico contemplava uma educação geral baseada na experiência da vida, que era da competência de todos aqueles que interagiam nas várias fases do desenvolvimento de cada um e uma educação científica e técnica que deveria ser ministrada por pessoas competentes, quer estivessem ou não habilitadas por um diploma para proceder a esse ensino. A pedagogia que nos propôs baseava-se numa concepção da infância de inspiração evangélica, respeitadora da liberdade e criatividade de quem ensinava e de quem aprendia.

No tocante aos modelos antropológicos, privilegiou o carácter aventureiro de personagens que arriscavam contínua e conscientemente a vida, fazendo, com regularidade, várias referências à educação das personagens que biografava com o propósito de revelar que, de um modo ou de outro, tinham tido uma infância livre em contacto com a natureza e uma aprendizagem pela experiência da vida que contrastavam com uma passagem dolorosa pela escola oficial.

[Artur Manso]

[Este é o segundo texto de uma série de cinco. O anterior: Da vida e da obra. O seguinte: Educação para Portugal e para os portugueses]


||| Pode ainda interessar…

Leave a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Scroll to Top