Ferreira Gullar, o escritor e poeta brasileiro, nasceu a 10 de setembro de 1930.
Publicou o primeiro livro, Um Pouco Acima do Chão, em 1949, ainda na sua cidade natal, São Luís do Maranhão. Em seguida transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi colaborador de diversos jornais e revistas. Participou no início do movimento concretista, rompendo com os principais mentores, em 1959, para fundar o grupo “Neoconcreto”, cujo manifesto escreveu. Com a radicalização do golpe de 64, passou a reproduzir em sua poesia os ideais revolucionários que inspiraram muitos autores e que de certa forma o levaram a ser perseguido pelos militares. Daí o exílio durante a década de 70 quando escreveu a sua obra maior, Poema Sujo. É também reconhecido como importante crítico e teórico de arte.
[Bastos, Jorge Henrique [selecção, introdução e notas]. Poesia brasileira do século XX: dos modernistas à actualidade. Lisboa: Antígona, 2002, p. 190]
Um dos seus poemas mais divulgados (?): TRADUZIR-SE
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.Traduzir-se uma parte
na outra parte
– que é uma questão
de vida ou morte –
será arte?
A interpretação de Adriana Calcanhoto: