O génio maligno de Descartes

O grande problema de que parte a filosofia de Descartes pode formular-se assim:

Parece-me que, neste momento, estou a escrever estas linhas (e o leitor, a lê-las, no seu momento). Mas, como posso saber que é efectivamente assim? Bem sei que isso parece muito seguro: mas, quando sonhamos, também o que sonhamos nos parece seguro — e, no entanto, não passa de sonho. Como posso saber que, neste momento, não estou também a sonhar? Como posso saber que não estou a ser enganado por um génio maligno que me manipula e, assim, me engana?

Crucifixão branca de Chagall

Esta hipótese do génio maligno, por vezes, faz torcer o nariz aos alunos. Não apenas porque é uma hipótese estranha (mas ela é, de facto, uma hipótese — uma experiência mental), como ainda porque “cheira” a… coisas do diabo (o génio maligno seria uma espécie de diabrete, ocupado em nos enganar constantemente e a todos).

Para lhe retirar a estranheza, apresento uma “versão” mais actual do génio maligno: como posso saber que não estou a ser manipulado por um médico maligno?

Um médico malvado que resgatou o meu cérebro de um horrível acidente (de trânsito, em que tudo ficou feito em pedaços) e que agora me tem enfiado numa proveta cheia de produtos químicos, fazendo parte de uma fantástica experimentação médica. Estarão alimentando-me com “dados sensíveis” através de cabos coloridos: vermelho para a audição, preto para o tacto, amarelo para o gosto, azul para a vista…?

[COHEN, Martin. 101 problemas de filosofía]

Pergunto: achará o leitor esta segunda versão mais… verosímil?

[um beijo para a Nita, do 11º B, que motivou este texto]

O texto Descartes: o nosso mundo será irreal? retoma este tema, ligando-o a outras obras literárias, ao filme The Matrix, a outros filósofos (como os céticos)…

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