SONS # 17 máquina de escrever

Uma ideia muito divulgada acerca da chamada música clássica é que é… séria (há, aliás, quem a chame — estranhamente, no meu entender — assim: séria, mais ou menos como sinónimo de a sério), tocada em espaços formais, em concertos com regras/rituais rígidos… Ora, não é assim — ou, pelo menos, nem sempre é assim.

Há regras que se justificam pela própria natureza da música clássica; por exemplo, o silêncio dos ouvintes é muito importante para captar pequenas subtilezas sonoras ou sons muito suaves; isso não impede que o concerto de abertura da Festa do Avante (com música clássica) tenha lugar no palco principal, portanto, num espaço onde há tudo menos silêncio. Reprovável, por isso?

Para dar outro exemplo: a tradição manda aplaudir apenas no final das obras: assim, quando se ouvê uma peça com vários andamentos, não se deve bater palmas entre eles (já vi um bispo e um ex-primeiro ministro, lado a lado, baterem palmas entre os andamentos da 9º Sinfonia de Beethoven). Mas talvez nenhum dos meus leitores desconheça aquela marcha que é presença obrigatória no programa dos famosos Concertos de Ano Novo e que é acompanhada por palmas do público — esta:

 

Anderson

Pensa-se, por outro lado, que a seriedade da música clássica se revela na pomposidade sonora, de onde não é possível “concluir” qualquer mínima risota. Talvez ainda, um dia destes, chame para aqui algumas peças clássicas para ilustrar o tema O humor na música clássica; hoje, recordo apenas a “homenagem” que à máquina de escrever prestou o compositor americano Leroy Anderson (1908-1975): em THE TYPEWRITER (1950), o humor é expresso pela utilização da máquina de escrever como “instrumento solista”:

Uma curiosidade: repare que, como é também habitual nos concertos de música clássica, a máquina de escrever “afina” pelo lá do oboé (se não notou, reouça a peça; é o próprio solista que pede a nota para afinar a máquina). 😉 . A seguir, a “interpretação” de um “intérprete” bem conhecido dos ecrãs do cinema — Jerry Lewis:

 

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