Poeta, contista e cronista brasileiro, Carlos Drummond de Andrade nasceu em Minas Gerais, a 31 de outubro de 1902 e faleceu no Rio de Janeiro, a 17 de agosto de 1987. Em Poesia brasileira do século XX : dos modernistas à actualidade (Lisboa : Antígona, 202, p. 75), Jorge Henrique Bastos apresenta-o assim:
[…] este poeta […] é unanimemente considerado a mais alta voz da sua geração e de toda a poesia do século XX, no Brasil. Legou-nos uma obra vasta e absoluta, trabalhando a linguagem sempre com a sua marca original, em que actuam temas como a família, a terra e o mundo. O poeta captou uma lírica ladeada pelo sarcasmo, a ironia e as contradições do homem, mas preencheu tais características com uma visão única. Detentor de uma voz que experimentou todas as fórmulas, Drummond move-se num território heterogéneo, sem perder de vista o horizonte pessoal, tecendo assim uma larga manta de referências. Fiel à irreverência modernista, conseguiu acompanhar as transformações da poesia brasileira, mantendo a sua individualidade e inspirando as gerações mais novas. Criou um estilo total que surgira amadurecido desde os primeiros livros, onde a via irónico-metafísica fortaleceu a estilística prosaica de muitos dos seus versos; em seguida explorou uma vertente elegíaca da qual resultaram poemas antológicos, reflectindo tanto sobre os dramas como os dilemas humanos na sua dimensão geral e individual.
Fica, dele, o poema O Enterrado Vivo:
É sempre no passado aquele orgasmo,
é sempre no presente aquele duplo,
é sempre no futuro aquele pânico.É sempre no meu peito aquela garra.
É sempre no meu tédio aquele aceno.
É sempre no meu sono aquela guerra.É sempre no meu trato o amplo distrato.
Sempre na minha firma a antiga fúria.
Sempre no mesmo engano outro retrato.É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência.
||| De Drummond, O meu Baú publicou um outro poema: Verdade, que foi/é pretexto para refletir sobre o problema da verdade.