Dmitri Chostakovitch
[ou Shostakovich ou Chostakovich]
nasceu em Sampetersburgo a 25 de setembro (12 de setembro do calendário juliano) de 1906 e morreu a 9 de agosto de 1975.
Há quem lhe critique o conformismo em relação ao regime soviético
[a Estaline].
Há mesmo quem não lhe perdoe: é curioso, para dizer o mínimo, verificar que o seu nome é simplesmente ignorado em algumas histórias da música ou “manuais de leitura” de obras-primas da música clássica.
Mas há quem afirme que esse conformismo é só de fachada
[foi ideologicamente condenado num artigo do Pravda e por uma resolução do Comité Central do Partido Comunista, embora tenha sido reabilitado e agraciado mais tarde: em 1966, foi nomeado Herói do Trabalho Socialista],
fachada sob a qual esconde a sua liberdade criadora: a obra que compôs testemunharia a sua luta titânica para conseguir um espaço de liberdade no interior de um sistema soviético que constantemente suspeitou do compositor.
A revista francesa Classica-Répertoire de setembro de 2006 propõe 10 obras-chave para descobrir Chostakovitch:
- Sinfonia nº 1, composta com apenas 19 anos.
- Lady Macbeth de Mzensk (1934): uma das duas óperas que o compositor terminou. Obra-prima, infelizmente sem continuação.
- Sinfonia nº 5 (1937): marco da sua reabilitação oficial, inaugura um novo estilo, mais acessível e patético, ainda mais possante.
- Quinteto com piano (1940): obra ideal para entrar na sua música de câmara.
- Sinfonia nº 8 (1943), “sinfonia de guerra“. “Raramente uma música terá exprimido com tanta força e justeza a cegueira de uma época e o absurdo dos destinos individuais”.
- Concerto para violino nº1 (1948), um imenso grito de revolta.
- Quarteto nº 8 (1960), o mais, justamente, célebre dos 15 quartetos para cordas.
- Sinfonia nº 13 “Babi Yar” (1962). Quadro negro da vida quotidiana na URSS e denúncia virulenta do antissemitismo.
- Sinfonia nº 14 (1969), ciclo de melodias para soprano, baixo e orquestra de câmara sobre o tema da morte.
- Quarteto nº 15 (1974, 1 ano antes da morte): o cume do ascetismo.
Deixo, a seguir, a sua 5ª Sinfonia,
“a obra mais tocada e discutida de Chostakovitch, [que] resume as dificuldades da sua vida criativa. Com o subtítulo ‘Resposta Prática e Criativa de Um Artista Soviético a Justas Críticas’, começa por um grande grito de desespero, a que se segue um lamento longo e atordoado. Sobre o finale aparentemente otimista, disse o compositor: ‘É como se alguém te batesse com um pau e dissesse: A tua obrigação é estar contente!'”. ( VVAA. Música clássica. Porto: Civilização, 2007, p. 453).
Sobre o seu quarto andamento escreveu António Victorino D’Almeida [Toda a Música que eu conheço. 2º volume. Cruz Quebrada: Oficina do Livro, 2008, p. 337-338]:
“[…] parece-me ser efetivamente uma das poucas páginas verdadeiramente fracas do compositor, com alguns desenhos rítmicos repetidos até à exaustão e sem uma substância melódica e expressiva que justifique tamanha insistência…
Quase se diria tratar-se de um exemplo de música ‘maximal repetitiva’ — mas se tal serviu para que o compositor voltasse a usufruir de uma certa tranquilidade para compor obras tão geniais como a maioria dos seus quinze quartetos de cordas, só vejo razões para nos felicitarmos por esses compassos menos felizes…
Pouco tempo depois, inclusivamente, o Quinteto com Piano op. 57 daria a Chostakovitch o Prémio Estaline, mas essa espécie de estado de graça foi de curta duração…”
||| Proponho ainda que ouça aqui, n’O meu baú, a 10ª Sinfonia de Chostakovitch, enquanto lê, no mesmo sítio, algumas notas sobre o compositor e sobre essa obra (frequentemente interpretada como reação à morte de Estaline).