A dúvida é o contrário da certeza. Duvidar é pensar, mas sem estar seguro da verdade do que se pensa.
Os céticos fazem da dúvida o estado último do pensamento. Os dogmáticos, quase sempre, uma condição prévia. Assim acontece com Descartes: a sua dúvida metódica e hiperbólica (quer dizer, exagerada: ele toma como falso tudo aquilo que sabe ser duvidoso) não é mais do que um momento provisório, na sua procura da certeza.
Descartes sai dela através do cogito, que não é duvidoso, e de Deus, que não é enganador. Mas o seu Deus é duvidoso, diga ele o que disser, e nada impede que o cogito seja enganador. Assim a dúvida renasce sempre. Não se sai dela senão pelo sono ou pela ação.
[André Comte-Sponville. Dictionnaire philosophique. Paris: PUF, 2001, Verbete “Doute”]
Ilustração copiada daqui.
Olá, gostei da tira que li sobre ceticismo por isso gostaria de receber sempre.