Ninguém jamais deveria trabalhar. O trabalho é a fonte de quase todos os sofrimentos do mundo. Praticamente qualquer mal que se possa mencionar tem origem no trabalho ou no facto de se viver num mundo projetado para o trabalho. Para eliminar esta tortura, devemos abolir o trabalho.
Isso não significa que se deva parar toda a atividade produtiva. Significa criar um novo estilo de vida baseado na brincadeira; por outras palavras, levar a cabo uma revolução lúdica. No termo “brincadeira” incluo também os conceitos de festa, criatividade, sociabilidade, convívio e mesmo até arte.Ainda que as brincadeiras com caráter infantil sejam já por si próprias aprazíveis, as brincadeiras possíveis são muito mais do que isso. Eu clamo por uma aventura coletiva de alegria generalizada e exuberância livre e interdependente. Brincar não é algo passivo. Sem dúvida, precisamos de muito mais tempo do que temos agora para o ócio e a folga totais, sem preocupações com renda ou ocupação […]. A vida lúdica é totalmente incompatível com a realidade existente. Pior para a “realidade”, este buraco negro que suga a vitalidade daquele pouco da vida que ainda a distingue da mera sobrevivência. Curiosamente – ou talvez não -, todas as velhas ideologias são conservadoras — e isso exactamente porque acreditam no trabalho. Algumas delas, como o marxismo e a maioria dos tipos de anarquismo, acreditam no trabalho ainda mais ferozmente porque acreditam em bem pouca coisa além dele.
[Bob Black (Detroit, 1951), advogado e anarquista estadunidense ]
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||| Em A Cigarra Filosófica, Suits defende a hipótese de um Mundo (a Utopia) onde o trabalho, além de não ser necessário, não é possível.