TEMPO

||| “O TEMPO é uma forma de ser da matéria que expressa a ordem em que se sucede a existência das coisas e a duração de tal existência”.  (I. F. Askin. O Problema do Tempo)

||| Em música: cada uma das partes em que se divide um compasso.

1.

O TEMPO pusera-se a contar os dias desde o princípio, agora usando a tábua de multiplicação para recuperar o atraso, e com tanto acerto o fez que o Sr. José já tinha outra vez cinquenta anos quando chegou a casa. Quanto à criança lacrimosa, essa só estava uma hora mais velha, o que demonstra que o tempo, ainda que os relógios queiram convencer-nos do contrário, não é o mesmo para toda a gente.”
(José Saramago. Todos os Nomes, 2ª ed. Lisboa: Caminho, 1997, p. 46-47. Negritos meus).

2.

E POR VEZES

E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos

(David Mourão-Ferreira. Obra Poética: 1948-1988. 2ª ed. Lisboa: Presença, 1996, p. 269. O soneto está incluído no disco Monumento de Palavras, gravado pelo próprio poeta)

3.

A vida tem na aldeia um ritmo que a cidade nunca poderá entender. Cada compasso, aqui, dura um ano certo. Porque se mata o porco só pelo Natal, se os salpicões ficam salgados passam-se trezentos e sessenta e cinco dias a repetir:
— Os salpicões ficaram salgados.
A correção apenas se poderá fazer no ano seguinte.
Cada semente que a mão lança à terra, cada árvore enxertada, cada lagar de vinho, prendem o homem a um pelourinho de expiação, de doze meses. Desde que haja engano numa realização, só na próxima sementeira, época ou colheita se poderá retomar a liberdade, para de novo semear, enxertar e pisar — e apagar da própria lembrança e da dos vizinhos o erro vital cometido.”

(Miguel TORGA. Diário IV, 2ª ed. Coimbra: Ed. do autor, 1953. Tomo XII. 2ª ed., 1977 p. 142-143)

4.

Salvador Dali - A persistência da memória

O RELÓGIO
(adereço conceptual para usar no pulso)

Para-me um tempo por dentro
Passa-me um tempo por fora

O tempo que foi constante
no meu contratempo estar
passa-me agora adiante
como se fosse parar
Por cada relógio certo
no tempo que sou agora
há um tempo descoberto
no tempo que se demora.
Fica-me o tempo por dentro
passa-me o tempo por fora.

(Poema de Ary dos Santos. Adereços, Endereços. Ilustração: Salvador Dali – A persistência da memória).

||| “O tempo irreversível, o que não volta”, um “tempo à escala humana não se reflete nos mitos, mas nas tragédias: e, por certo, nas obras dos historiadores.” (Fernando SAVATER. O meu dicionário filosófico, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2000, p. 80).

||| As ideias filosófica e física de tempo.

||| Ler ainda um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen: Tempo.

||| O Tempo em aforismos: O que é o Tempo? Tentativas de agarrar um conceito fugidiço em 20 aforismos.

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