História do rock em 10 discos marcantes

Listas são como mapas. Tal como como os mapas, também umas listas são mais rigorosas que outras. Além disso, as listas são desafiantes para quem as elabora e úteis para quem se serve delas como guias. Tal como, uma vez mais, os mapas. Assim, vou tentar desenhar o mapa (será apenas fazer a lista?) da história do rock em 10 discos — 10 discos que considero marcantes na música urbana popular dos últimos 70 anos.

A história do rock em 10 discos marcantes…

…quando milhares foram publicados? Bom, a ideia é que a lista seja o pontapé de saída para quem quer que deseje aventurar-se no universo em que estes discos se movem.

 

A história do rock em 10 discos

Isaak Hayes, hot buttered soul (1969)

Não consigo dizer com muita certeza qual o melhor disco de Isaak Hayes. Tem uma obra com picos muito altos ou bastante baixos e o melhor conteúdo da sua capacidade criativa acaba por estar muito disperso. No entanto, em qualquer das obras de Hayes, a sua voz como instrumento destaca-se. E é na sua potente voz que se resume grande parte da sua criatividade. Usa a voz como Miles Davis usa o trompete. Marcante na soul e grande parte das boas criações hip hop dos nossos dias. E é também neste disco que está registado o famoso walk on by que viria mais tarde a ser musicado por tantas e tantas bandas de referência.

A história do rock em 10 discos

Joy Division, Closer

Destaco este disco não pela sua presença como influência de muita boa música, mas pela sua particular intensidade emocional. A beleza deste disco é daquelas que se revelam difíceis de tradução. Profunda, dramática, poética. Ao mesmo tempo que é suja e rebelde. A sua influência é particularmente visível em bandas mais recentes com grande exposição comercial, como os Interpol. Uma palavra para a capa deste disco que acompanha toda a beleza do conteúdo musical.

A história do rock em 10 discos

Yo La Tengo, electr-o-pura (1995)

Os norte americanos Yo La Tengo passam muito despercebidos. São quase militantes do anonimato e movem-se num circuito relativamente marginal ao mediatismo do rock e da pop. Ainda publicam discos e têm uma carreira bastante longa. A sua longevidade tem pausadamente deixado marcas. Uma música simples e doce, mas dentro de um padrão rock and rol. São dos melhores herdeiros dos Velvet Underground.

A história do rock em 10 discos

Sonic Youth, Evol (1986)

O título deste disco sugere uma brincadeira com a palavra love escrita ao contrário. Uma brincadeira? Talvez seja algo mais sério que uma brincadeira. Os Sonic Youth são provavelmente o caso mais sério de rock and rol feito durante as décadas de 80 e 90. E por quê? Porque conseguiram imprimir no rock o universo das artes contemporâneas de Nova Iorque. Evol é provavelmente o disco mais intenso da carreira dos Sonic Youth, embora me pareça que esse lugar seja bem disputado com Daydream Nation (1988). Rock avant-garde, os membros da banda viriam todos a colaborar com os nomes mais sonantes da cena alternativa americana, europeia e nipónica.

A história do rock em 10 discos

Spaceman 3, playing with fire (1989)

O disco deve ter umas 10 ou 12 canções (consoante a edição). Mas como é que Revolution surge no meio daquela música em estado de hipnose? Os próprios Spaceman 3 queixaram-se na altura de que os concertos estavam a ser aborrecidos pois o público só queria ouvir Revolution. Revolution é o título de uma das canções do disco, um estouro, um verdadeiro murro no estômago. Percebe-se a razão pela qual as pessoas desejavam tanto ouvir esse tema ao vivo. O disco não seria o mesmo sem Revolution, é verdade, mas seria igualmente bom sem Revolution. Não seria justo afirmar que os Spaceman 3 iniciaram uma revolução na música. Na verdade são apenas herdeiros do rock psicadélico da década de 70. Mas o artista nem sempre tem de fazer o corpo. Tem é de saber vestir bem o corpo. E os Spaceman 3 neste disco – e quase apenas neste – conseguiram-no muito bem.

A história do rock em 10 discos

13th Floor Elevators, the psychedelic sounds of 13th Floor Elevators (1966)

Se os Spaceman 3 são herdeiros do psicadelismo dos anos 70, algum do psicadelismo de 70 foi beber influências ao de 60. É aqui que entram os 13th Floor Elevators. Praticantes de um rock psicadélico, alusivo aos devaneios provocados por excesso de LSD, os 13th Floor Elevators são uma das maiores referências nos nossos dias desta fusão entre rock and rol e psicadelismo.

A história do rock em 10 discos

Stooges, the stooges (1969)

A banda de Iggy Pop é a celebração da animalidade do rock. E é a expressão da libertinagem. Nos seus primeiros dois e quase únicos discos conseguiram logo mostrar ao que vinham e passadas umas décadas creio não ser exagero considerar os Stooges uma das maiores criações do rock desde que o rock começou a fazer história.

A história do rock em 10 discos

Sex Pistols, never mind the bollocks (1977)

Este disco estará para a música pop e rock como a fonte de Duchamp está para o universo das artes. Considerado por muitos como musicalmente desinteressante, acaba por funcionar como o exemplo máximo do grito punk que agitou de vez a matriz da música rock. O punk é de tal modo influente que não é incomum encontrar músicos de jazz, hip hop ou mesmo músicos de formação clássica contemporânea a reivindicar a influencia do punk nas suas criações. Mas, ao contrário do que muitos defendem, este disco é bem tocado, tem uma musicalidade contagiante para além de toda a carga política, social e artisticamente simbólica que nele se pode encontrar. Este grito foi o único de originais gravado pelos Sex Pistols. Alguns membros da banda viriam a ter carreiras musicais interessantes, como o principal caso do controverso Johnny Lydon os P.I.L. musicalmente muito diferentes dos Sex Pistols e com um talento mais diversificado, mas menos impactante.

A história do rock em 10 discos

The Velvet Underground The velvet underground and nico (1967)

O tempo é o melhor escultor (como diria Yourcenar) da qualidade musical dos VU. Isto porque, a aceitar a intemporalidade como um bom critério de avaliação, os discos dos VU parecem ter sido gravados ontem. Mas a falar em influência no universo rock and roll não vejo outra tão significativa como a dos VU. O seu legado é enormíssimo. Qualquer um dos seus discos é um mimo. Uma aliança perfeita entre a formação rock de Lou Reed e a clássica de John Cale. Uma particularidade na capa uma vez que é obra de Andy Wharhol.

A história do rock em 10 discos

The white stripes, the white stripes (1999)

A razão pela qual indico um álbum dos norte americanos The White Stripes como referência nesta lista é porque conseguem, na maioria dos seus discos, fazer a síntese do que de melhor se fez desde que os brancos americanos pegaram no blues dos negros e o eletrificaram até à exaustão fazendo do blues a explosão rock and rol. É uma música quase enciclopédica. Os White Stripes foram um duo, constituído por marido e mulher. O fim do casamento foi também o fim da banda. Jack White continuou e continua a fazer discos, mas sem o brilho dos antigos White Stripes. E Meg nunca mais deu a cara, pelo menos que se saiba. Além disso a banda conseguiu uma razoável exposição comercial sem em algum momento se terem perdido no pátio da fama. Ao vivo eram verdadeiramente explosivos, como o documentam alguns vídeos de concertos que se podem encontrar no youtube.

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[Os discos essenciais da história do rock, segundo Rolando Almeidatexto de Rolando Almeida, escrito para O meu Baú. Como ficou dito numa “entrevista“, onde revela algumas das suas preferência (musicais, filosóficas…), o autor é professor de filosofia no ensino secundário público, na Escola Secundária Jaime Moniz, na ilha da Madeira. É natural de Castelo de Paiva, no norte do país e rumou há mais de uma década para a ilha, onde vive.

Esta é a segunda publicação de uma série pensada para quem decida entrar em determinadas áreas: da filosofia, da música, da história… A primeira, Metafísica: bibliografia, para uma iniciação, é de Desidério Murcho. A terceira é de Vítor Guerreiro: Filosofia da Música:  problemas; bibliografia de iniciação]

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