Eugénio de Andrade é o pseudónimo do poeta português José Fontinha, nascido a 19 de janeiro de 1923, em Póvoa de Atalaia, Fundão. Estreou-se em 1940 com Narciso, afirmando-se definitivamente com a coletânea As Mãos e os Frutos (1948). Faleceu a 13 de junho de 2005, no Porto.
Homenageamo-lo recordando um dos seus “primeiros poemas” (CANÇÃO), recriação de um tema das cantigas de amigo.
A expressão Cantigas de Amigo, recordo, abrange um grande número de composições diversas, que têm de comum o facto de “serem postas na boca de uma mulher — não da mulher já subordinada às suas obrigações matrimoniais, mas da donzela, da menina em cabelo” (A. J. Costa Pimpão. História da Literatura Portuguesa, I). De molde paralelístico e inspiração fluente, são fundamentalmente tradicionais (Vitorino Nemésio. Lírica Galaico-Portuguesa). As suas variedades principais são a alba ou alvorada, a barcarola ou marinha, a bailia ou bailada e a cantiga de romaria.
CANÇÃO
Tinha um cravo no meu balcão;
veio um rapaz e pediu-mo
–mãe, dou-lho ou não?Sentada, bordava um lenço de mão;
veio um rapaz e pediu-mo
–mãe, dou-lho ou não?Dei um cravo e dei um lenço,
só não dei o coração;
mas se o rapaz mo pedir
–mãe, dou-lho ou não?
[imagem do jornal Público]